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Bairrada // Oliveira do Bairro  

Derrocada põe último tijolo no Museu de Olaria e Grés abandonado pelo PSD

O futuro Museu de Olaria e Grés da Bairrada poderá estar irremediavelmente comprometido, depois da recente derrocada, provocada em parte pelo abandono da infraestrutura e pelos constantes furtos de madeira e ferro. Os projetos do futuro Museu de Olaria e Grés da Bairrada foram aprovados pelo executivo de Acílio Gala (CDS/PP), mas foram abandonados em 2005 pelo PSD, após ter reconquistado a Câmara que tinha perdido 16 anos antes.
Neste espaço temporal (desde 2005 até hoje), os constantes furtos de madeira e de ferro acabaram por originar uma série de derrocadas na infraestrutura (foto 01), provocando danos nos fornos, que foram considerados exemplares de arquitetura industrial de interesse cultural e patrimonial reconhecido.
O projeto do futuro Museu de Olaria e Grés foi abandonado pelo executivo de Mário João Oliveira, em 2005, que, entretanto, decidiu apostar na construção de raiz de uma Casa da Cultura. Embora criticado pelo CDS/PP, uma vez que os projetos estavam aprovados, Mário João Oliveira abandonou o projeto, tendo deixado, ao longo do tempo, uma verba cabimentada para a construção do arquivo da Cerâmica Rocha, que passaria por recuperar os escritórios da Cerâmica (02).
Atualmente, uma parte das instalações, contíguas à cerâmica, estão ocupadas por indivíduos de etnia cigana, que utilizam a própria madeira da Cerâmica, que escora os telhados, para fazer fogueiras que ardem de dia e de noite.
Indignação. Acílio Gala, ex-presidente da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro, diz estar indignado com o ponto a que chegaram as instalações da Cerâmica Rocha (03), recordando a importância que as mesmas têm no património industrial nacional (04). “Tinha deixado os projetos concluídos e os concursos abertos para avançar com as obras do futuro Museu de Olaria e Cerâmica da Bairrada (05), sendo certo que os primeiros investimentos seriam para a recuperação do edifício que albergava os escritórios da Cerâmica Rocha e para salvaguardar toda a fachada, seguindo, entretanto, o concurso para a construção do Museu de Olaria e Cerâmica”, referiu o ex-autarca de Oliveira do Bairro ao JB, acrescentando que “o património da Cerâmica Rocha foi salvaguardado, ainda no seu tempo”. “Uns 500 mil euros resolviam a primeira parte da recuperação, valor esse que anda a ser gasto na Volta a Portugal”, critica o autarca centrista.
Acílio Gala aponta o dedo a Mário João Oliveira, afirmando que “o atual presidente da Câmara está a desligar as novas gentes à história do concelho”.
O histórico do CDS/PP, que conduziu os destinos do concelho durante 16 anos, disse ainda ter ficado surpreendido com “o ponto a que chegou a Cerâmica Rocha”.

Silêncio. O presidente da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro, Mário João Oliveira, quando confrontado pelo JB, através de várias questões enviadas em tempo oportuno, sobre a atual situação da Cerâmica Rocha, remeteu-se ao silêncio.
Mesmo o facto de no local viverem indivíduos de etnia cigana e de toda a área ser propriedade privada e não se encontrar devidamente sinalizada, não mereceram qualquer comentário do edil oliveirense.

Cerâmica Rocha
O edifício da antiga Fábrica de Cerâmica de Oliveira do Bairro constitui um exemplar de arquitetura industrial de interesse cultural e patrimonial reconhecido. Foi adquirido, em 2001, pela Câmara Municipal de Oliveira do Bairro, com o objetivo de instalar o futuro Museu de Olaria e Grés da Bairrada. Contudo, o atual edil de Oliveira do Bairro, Mário João Oliveira, entendeu que o projeto não seria prioritário e adiou a sua construção “sine die”. Trata-se de uma construção referenciada ao ano de 1902 que, até aos anos 80, funcionou como fábrica de cerâmica e grés, num processo contínuo de produção de olaria tradicional.
Totalmente construída em tijolo maciço de barro vermelho, a antiga Fábrica de Cerâmica, fundada por Abílio Rocha e seus irmãos, laborou até ao início da década de 90 do século passado.
O acervo do futuro museu integraria mais de duas mil peças cerâmicas, moldes de gesso e madres de madeira, as rodas de oleiro, bem como os milhares de documentos do arquivo da fábrica, que estão guardados no Parque Desportivo de Oliveira do Bairro.