Trabalho é também uma forma de valorização e de emancipação social. O facto de este ano se festejarem o dia do Trabalhador e da Mãe juntos (por calhar no primeiro domingo de maio) ganha um sentido especial atendendo a que a sociedade se tem aproveitado injustamente do trabalho das mães sem as recompensar!
A luta dos trabalhadores conseguiu restituir-lhes mais dignidade na sua maneira de estar em sociedade. Também o trabalho formal foi o que, socialmente, proporcionou às mulheres independência económica a nível familiar, de maneira a equilibrar a distância entre homem e mulher! Essa distância era marcante pelo facto de a sociedade fazer discriminação entre as diferentes formas de trabalho! Na jerarquia social, a forma de trabalho ainda se revela como configuração determinante de diferenciação.
Com o home office, as discussões sobre horário de trabalho tendem a acabar. Passa-se a ter mais independência que reverte no bem da empresa devido à disponibilidade constante dos trabalhadores. Muitos dos custos da empresa são transferidos para a casa dos empregados.
Os sindicatos, para não perderem significado nem sentido, terão de conceber uma nova arquitetura de segurança para o trabalhador; esta terá de alargar o seu âmbito de ação também para os trabalhadores não filiados, porque se torna cada vez mais urgente lutar pela justiça distributiva. Uma sociedade escravizada à moeda que cada vez produz mais oligarcas (reinado dos poucos, numa cumplicidade entre riqueza e política) e mais plutocratas (reinado dos super-ricos à margem ou acima da lei) terá de controlar o mundo financeiro que pertence aos juguladores do dinheiro!
A discriminação, na sociedade ocidental, tem sido fortificada pela herança grega que fazia depender a dignidade humana da “dignidade” atribuída ao trabalho e não à pessoa! Na mentalidade grega, o trabalho físico era algo inferior destinado aos escravos e mais tarde aos servos, criados, etc. (os filósofos, membros de famílias abastadas, podiam dedicar-se ao “ócio” produtivo na consciência de que saber é poder!).
Na era cristã afirmou-se a filosofia do “ora et labora” (trabalho também é rezar) dando-se, deste modo uma valorização humana e social ao trabalho! Nesta ordem de ideias, trabalho é parte da realização humana participante da atividade divina e tão digno como a oração; segundo o princípio cristão, a pessoa é que dá dignidade ao trabalho e não o trabalho à pessoa. O princípio básico da regra beneditina (ano 529) que, na sua maneira de viver, estruturava o seu dia segundo a divisa “Rezar, trabalhar e ler” influenciou o desenvolvimento de uma “Europa” que nascia ao lado dos mosteiros.
Hoje trabalho é energia, energia concentrada em capital. O valor do que se adquire é dado pelo trabalho.
O trabalho transformou-se em mercadoria e como tal em mero negócio como quer uma sociedade mecanicista, mercantilista e materialista interessada apenas em funções.
Trabalho é a forma de realização humana por excelência e como tal inerente à pessoa, como se pode ver já na atividade criativa expressa na necessidade e modo de jogar das crianças; segundo este impulso, sem atividade não há felicidade; trabalhar é um direito, não uma obrigação! Também sob o ponto de vista bíblico, trabalhar é esforço, é criar e Domingo é o dia em que Deus deixou de trabalhar… Como se vê; também Deus trabalhou mas sem se perder no trabalho!…
Com as novas formas de organização do trabalho, talvez nos aproximemos mais da divisa acima descrita.