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João Sousa

Troviscal

Não queremos doentes de 1.ª e doentes de 2.ª

A solução para os problemas que condicionam, hoje, o normal funcionamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS) passa por transferir para os privados a prestação de cuidados com o pagamento de milhares de milhões de euros aos grupos económicos.

O SNS subfinancia grupos privados a crescerem à custa dos dinheiros públicos.

As despesas do SNS com transferências para o setor privado atingiram, em 2018, 5.7 milhões de euros. Se considerarmos tudo o que pode ser canalizado no imediato para o SNS – em serviços médicos adquiridos e fornecimento de serviços (912 milhões de euros) e somarmos o que é pago anualmente em média pelos P.P.P. na saúde, concluímos que estariam disponíveis para investir no serviço público cerca de 1.500 milhões de euros.

A solução é reforçar o SNS com mais financiamento, mais profissionais, melhores equipamentos; é urgente a necessidade na recuperação e reabertura das extensões de cuidados primários de saúde de Oliveira do Bairro, mais urgente na União de Freguesias, a realização de consultas presenciais com médicos de família, de saúde materno-infantil, os rastreios e acompanhamento de doentes crónicos.

Em 30 de agosto de 2020, 953.000 portugueses continuavam sem médico de família, ou seja, melhorou e voltou a piorar.

Em março, confrontado com o início do surto epidémico, situação para a qual não estava preparado, os seus profissionais deram uma excelente resposta, garantindo o acompanhamento necessário a todos aqueles que testaram positivo ao novo coronavírus.

Não fosse o SNS e a situação teria sido muito grave. É importante que o SNS assegure a capacidade de resposta no tratamento dos doentes com Covid-19, tal como é importante que recupere a prestação de cuidados de saúde que ficaram por realizar e garanta o acesso à saúde de doentes com outras patologias.

Já há muito tempo que se debate e denuncia a fragilidade dos cuidados primários de saúde e falta de profissionais no setor, em Oliveira do Bairro.

A concentração dos serviços de saúde primários no concelho tem originado confusão, distanciamento devido à falta de mobilidade, falta de transportes acessíveis, ficando muitos utentes à mercê de outros quando existe possibilidade. Dá-se também o aglomerado devido às consultas em certa hora marcada, exemplo consultas às 16 horas , se durarem mais que o tempo que devia, junta às das 17 horas e assim sucessivamente. Deu-se o caso em que estava presente e se encontraram às 15h30 e as 16h30, o que originou o tal aglomerado de utentes junto à porta, dando motivos a uma Doutora que saía de uma reunião entre todos os médicos, uma expressão muito infeliz, que foi e cito, «Vocês estão aqui ao monte e fé em Deus, não têm receio da Covid?» – tive que intervir porque os utentes não tinham a culpa dessa reunião durar até às 16h30 e exclamei: «Senhora Doutora, sabe a razão deste ajuntamento? Fecharam os Centros de Saúde da Mamarrosa, o de Bustos e como se isso não bastasse, a seguir o do Troviscal.» Ao que a Doutora respondeu, «O senhor talvez tenha razão».

O SNS foi criado para servir os pobres, remediados e ricos, nesta confusão que se assiste, não haja doentes de 1.ª e doentes de 2.ª, pois a precariedade pode proporcionar isso mesmo, o amigo e o compadre.

Já foi encerrado o Centro de Saúde da Mamarrosa, Bustos, esperemos que não se encerre a do Troviscal, pois assim existiria discriminação ou luta ideológica entre as duas forças maioritárias no concelho, com danos aos seus eleitores.

Construam mas não deixem que as pessoas fiquem em casa ou que tenham de recorrer a privados, pagando o que eles bem entendem. As eleições estão aí à porta, a caça ao voto irá acontecer, não façam obra à pressa, porque depressa e bem não há quem.

Apesar de não sermos muitos na luta, as revoluções sempre se fizeram com as minorias para as maiorias .
Povo ignorado, explorado por punhado de gente hostil, não foi para isto que fiz o 25 de Abril.