A arquitetura continua a ser subestimada, muitos veem o arquiteto como alguém que apenas “faz desenhos bonitos” ou dá opiniões estéticas. Esta visão redutora ignora o papel técnico, legal, social e cultural que o arquiteto assume no planeamento e na construção de qualquer espaço.
Um projeto de arquitectura não é um luxo, é uma necessidade. É comum iniciar-se uma obra pelo construtor como se o projeto fosse secundário. Esta inversão compromete a qualidade e legalidade do processo. O percurso ideal começa com um arquiteto que compreende o cliente, analisa o terreno, interpreta os regulamentos e cria uma proposta coerente, funcional e adaptada aos critérios e gostos das pessoas que o vão habitar. Só depois deve surgir o construtor para executar o que foi pensado e aprovado. O papel do arquiteto é interpretar, escutar e propor.
Gosto é relativo, mas arquitetura exige conhecimento técnico, leitura do contexto, sensibilidade espacial. Um projeto bem concebido equilibra desejos, normas e realidade.
A fragilidade também é refletida na comunicação entre os procedimentos de licenciamento. Cada município, e bem, tem regulamentos próprios adaptados à sua geografia refletida no Plano Diretor Municipal. O regulamento urbanístico deveria ser igual para todo o país porque, apesar de existir o Regulamento geral das edificações urbanas, neste momento o regulamento urbanístico de cada município impera sobre o regulamento geral, permitindo assim tornar este mesmo supérfluo. Os indeferimentos seriam menores tornando os procedimentos mais eficazes criando uma ligação de confiança, levando o cidadão a não cair na ideia de construir sem permissão. A burocracia confusa e morosa afasta os cidadãos, alimenta construções ilegais e transforma um direito, o de construir com dignidade, num labirinto.
Além disso, a escassez de mão de obra qualificada afeta a qualidade da execução e permite que exista cada vez mais uma exorbitância de apresentação de orçamentos. O valor da mão de obra, ao não ser tabelado, permite que exista o receio de construir, e principalmente construir não pelos gostos e ideais dos proprietários, mas sim perante o valor que estão dispostos a gastar.
A inexistência de cursos técnicos ou superiores na área da construção civil, faz com que esta área seja desvalorizada pela sociedade. O preconceito de criar um filho pedreiro/trolha, tem que acabar. A arquitetura desvalorizada, aliada à falta de mão de obra qualificada, distorce o verdadeiro propósito da construção.
Filipe Correia
Arquiteto