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Manuel Armando

Padre

Como definir um ideal?

Não me atrevo assacar a quem quer que seja as responsabilidades das muitas carências, más intenções, deficientes formações espirituais, morais, sociais e tantos outros problemas ou dificuldades que grassam por este mundo fora, hoje, quando dizem estarmos nos séculos das luzes. É natural que elas existam ou até tenham feito parte de qualquer efeméride e sejam então agora uma mera recordação de algo antigo do que ainda não demos conta, continuando a viver às escuras sem disso nos apercebermos.

Lendo algo sobre o passado, depreendemos que a sociedade deveria ter evoluído nas diversas dimensões da existência e actividade humanas. Mesmo atendendo às privações naturais, somos levados a crer que o nosso mundo anda abstraído e pouco disposto ao desenvolvimento progressivo e, particularmente, no que concerne aos indivíduos.

Afigura-se-me que os meios técnicos postos ao alcance de todos, pobres e ricos, homens ou mulheres, adultos e, sobretudo, das crianças, absorvem grande parte do tempo que cabe a cada um. Eles, que poderiam ter emprestado um incremento natural na resolução de graves problemas do Homem, causam-nos a impressão de, por seu turno e ao contrário, implementarem o desacerto entre a inteligência com as suas capacidades inatas e a imobilidade intelectual, hoje, escandalosamente notada em variadíssimos sectores etários e profissionais de populações que tinham obrigação de primar quanto à sua desenvoltura social e ao diálogo interpessoal, mas que, opostamente se rementem a um comodismo e preguiça ou ao desvio de interesses e actualização de quaisquer dados, frutos de aturada observação diária.

A técnica e os seus objectivos de hoje não são, de forma alguma, inteligentes. Serão meramente autómatos que transmitem apenas tudo quanto os homens do saber queiram impor aos intelectos dos demais que, em muitos casos, se deixarão ficar inanes e na inoperância, porque os assuntos vigentes não são, como se imagina que fossem, esmiuçados, ponderados, mastigados e digeridos por serem farinha pura e sã no consumo sadio, individual ou colectivo.

Pelo que me tem sido possível experimentar, é gritante, por exemplo, a indiferença ou desatenção dos mais jovens – nem todos, claro – sobre quaisquer circunstâncias familiares, amiciais, locais, nacionais ou de âmbito mais alargado. Nesse caminho, o conceito de globalidade não oferece o menor sentido às mentes ainda muito fechadas, devido à idade, perante as realidades existenciais.

No intuito de fomentar um crescimento nas suas múltiplas dimensões de jovens, tem sido apresentada a um grupo específico a sugestão de fazer-se uma inumeração e análise de acontecimentos inquietantes ou promissores que tivessem passado em frente aos olhos de cada um e suscitado atitudes pessoais de curiosidade crítica construtiva, com a consciência assente no tempo e sítio que ocupamos.

Depararamo-nos, porém, com o desconhecimento do que mais sensacional tenha acontecido, durante o espaço apenas de uma semana.

Nada aconteceu, nada se viu nem ouviu que interrompesse a mais vulgar rotina e pasmaceira dos dias que escorrem sem atenção alguma.

Nem é saudável atender às respostas. Uma ou outra achega de interesse diminuto e sem projecção aflora na conversa de alguém presente. De resto, coisa nenhuma acontece de importante e imprescindível para o crescimento interior daqueles de quem se espera algum rasgo digno e útil na vida futura.

Instalou-se uma espécie de pobreza ou apatia na mentalidade e modo de agir num certo número de jovens, com o perigo de iniciar-se assim uma geração amorfa, sem ideais próximos, para além daqueles que desempenham o papel de “fazedores de dinheiro”.

Pena é que na família, na Escola, na Igreja e na sociedade em geral não se abram janelas de interesse comunitário e os diferentes grupos não sejam conscientemente interactivos e colaborantes.