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Manuel Armando

Padre

E a caminhada pró inocentes?

Fazem-se caminhadas, nomeadas pomposamente de solidárias, como também variadas manifestações em praças públicas, frente a edifícios onde trabalham ou se reúnem pessoas de todos os quilates e quadrantes de governação, empresários e, ainda, outras diante de quaisquer estabelecimentos de cultura, arte e semelhantes.

Perguntamos com sensata naturalidade pelos resultados de tais demonstrações de força e de fraqueza.

Os chamados braços de ferro são a prova concreta da intransigência de ambos os lados litigantes. Uns não cedem, os outros não param. E, enquanto isto sucede, o trabalho, nos diversos sectores sociais, culturais, desportivos, artísticos e por aí fora, paralisa, o tempo passa, as coisas cansam e esquecem-se e, assim, tudo continuará sempre e mais na mesma ou pior.

Saliente-se, nestas circunstâncias, apenas o desencanto e desapontamento num mundo que aguarda ansiosamente resultados positivos, mas, ao contrário, vê os seus vislumbres gorados e o desalento ou desilusão vão ter de apoiar-se nas habituais promessas que jamais virão a ver-se satisfatoriamente cumpridas.

Olhando-se, como exclusivos, os âmbitos das reivindicações, outros problemas amargos das comunidades que eram prioritários passam a segundos e terceiros planos de interesse ou intervenção.

Continua, entretanto, uma sociedade adiada e as famílias e grupos jamais farão progredir o seu “modus vivendi”, até porque, nestas intermitências, os preços de vida essenciais disparam e tornam-se incomportáveis para todas as bolsas onde tilintam somente umas moeditas pretas.

Fico eu, na verdade, perplexo sobre o peso de todas as tais exteriorizações em massa, nas quais uns tomarão parte com interesse consciente e humano, enquanto muitos outros aproveitam isso como bons instantes de diversão sem até mesmo entenderem os fundamentos e objectivos dessas experiências que tentam descobrir de que lado se achará a razão.

Mas, já a sobejamente conhecida “velha” Maria ia com as outras e ela, ainda hoje, não morreu. Está viva e para durar.

Dentro de tudo isto e no tempo em que se defendem supostas vítimas de qualquer coisa, acusando na generalidade determinadas classes ou Instituições e partes do universo operativo, serão incluídos todos os membros das mesmas, conhecidos e desconhecidos, culpados e inocentes, facínoras e santos, usurpadores das forças braçais operárias e empregadores honestos, conspurcadores da sociedade e os promotores de uma vida justa, os bem nutridos e os esfarrapados e famélicos, os violadores e os inocentes, todos eles enfileirados e enfiados na mesma sanita.

Daí que assistirá a qualquer alguém o direito de querer saber sobre quando e como se juntarão os magotes, encetando as caminhadas solidárias ou tomadas de posição, a campo aberto, para se afirmar em uníssono que nem todo o ser humano é mau, havendo, isso sim, também muitos cristos a serem inocentemente infamados e cravados numa cruz, donde jamais sairão, porque pregados com o azedume do sarcasmo e o labéu inapagável da dúvida ou maledicência.