Decerto não poderei nem deverei dizer muito sobre a utilização dos meios técnicos que nos amarfanham artificialmente e, tantas vezes, nos colocam no rol de atrasados mentais, pois que aparecem a pensar, substituindo-nos, ou a encontrar soluções que jamais imaginaríamos serem possíveis.
Há máquinas e sistemas que nos ultrapassam, já desde bastante tempo. Em muitos casos qualquer homem está ultrapassado quase sem se aperceber do desandar da vida em cada dia. Os automatismos de hoje riem-se da nossa cara de papalvos e até as gentes mais novas não admitem que alguns de nós (como eu) não sejamos capazes de entender ou manusear aqueles aparelhos que, para eles, são o que há de mais simples e fácil.
Aqui notamos uma diferença abissal entre nós e os bafejados pela dita de terem nascido numa época, de algum modo, mais privilegiada.
Mas, mesmo que me apodem de “bota de elástico”, prefiro em várias circunstâncias trabalhar à moda antiga, com a minha mente e vontade livres.
Parece evidente vegetarmos numa época em que obrigatoriamente as pessoas inteligentes serão despromovidas ou empurradas para a alienação das suas faculdades e se permitem cair sob o domínio de tudo quanto seja artificial, onde irão parar. Comprovemos, para exemplo, que benefício humanitário trarão os apregoados e bem estruturados bonecos – e até eu admiro – que se assemelham, com arte inegável, a crianças bem vivas ainda que articuladas e sem alma?!
Nestes tempos que decorrem, encontramo-nos de forma inesperada com mentes completamente vazias que não esmiúçam a realidade e ainda desconhecem quanto faz parte do homem operante, desde o idealizar até ao elaborar a existência inteligente e solta.
Caminha-se, em passos largos, ao encontro de tudo quanto traz ocasião para os humanos deixarem de ser quem, com toda a propriedade, julgam ser. Estes parecem gostar e seguir o vazio da vida, pois, dentro de si, não se encontram nem desenvolvem quaisquer ideais nobres para um certo viver eficaz e habilmente humanizado e humanizante.
As épocas vão-se sucedendo, umas às outras, e nós, apoiados pelos dados da História, esperaríamos um mundo mais harmonioso e feliz, contudo, parece experimentarmos o contrário, atendendo a tudo de quanto temos um conhecimento permanente. Somos forçados a aceitar o facto de que o materialismo nos pode alienar as capacidades de tal forma que se faz crer não pisarmos terra firme.
Apresenta-se como mais fácil e atraente a experiência do artificialismo que leva o homem a embotar as suas potencialidades intelectuais e anímicas.
O desespero apodera-se do agir sadio, considerado promissor de uma vida nova e feliz. Na viragem de cada dia em que nos encontramos, surge-nos quase como obrigatório subjugar e substituir o que somos ou fazemos por aquilo que surge, encenando a intelectualidade pessoal.
Somos invadidos pela maré alta acabrunhadora que nem nos facilita respirar inteligentemente. Aceita-se como solução moderna para todos os problemas intrincados, a “inteligência artificial”. Não a compreendo nem desejo ocupar nela nenhuma das poucas aptidões que ainda julgo possuir. Uma coisa, porém, quero afirmar com orgulho e gratidão ao Criador: – continuo a saber que a minha inteligência, embora fraquinha, é cem por cento natural e consciente. Ora, se o contrário vier a comprovar-se, eu estou “arrumado”.