Meu filho, minha filha, meu parente, meu amigo, nem sei como te hei-de tratar. Já lá vai algum tempo, depois do nosso convívio em família, no trabalho, nas festarolas, nos sítios mais diversos de uma vida, tida como humana.
Foram tantas as vezes e circunstâncias em que, juntos, procurámos os nossos interesses pessoais e familiares, olvidando tantas e tantas gentes que cruzavam connosco na rua, a tropeçarem nas dificuldades de cada instante, pois a vida séria não é fácil para ninguém, ou melhor, não pode nem deve ser levada na frivolidade e inoperância que nada edificam, mas levam tudo a apodrecer e a perder-se.
Desde criança, me foram dizendo sempre que era bom elevarmos os olhos e o pensamento para Aquele que nos criou. E tão facilmente esse conselho era desprezado.
Hoje, quereríamos retomar o tempo em que começámos a ter consciência de quem éramos, donde viemos, o que fazer em todos os minutos da existência. Impossível, todavia, consegui-lo.
A partir deste lugar onde me encontro, descortina-se quanto mal e pecado grassam entre os povos que não podem ser avisados, seja por quem for dos que estão deste lado. É intransponível o caminho. Terão, portanto, de procurar outras direcções e soluções, enquanto têm tempo.
Se, hoje, fosse possível e permitido voltar ao princípio da nossa existência pessoal, quanto eu teria feito de outro modo.
Pelo que te afirmo, bom seria toda a gente perscrutar o seu coração e perguntar se teria a coragem de cometer os mesmos erros, desculpando-se com o desconhecimento de uma forma de ser e estar respeitosamente numa sociedade, numa família, numa Igreja.
Olha, João, Pedro, Maria, Susana, Manuel… – já nem me lembro, ó filho, ó amigo, ó companheiro de outrora, como te chamas. Esqueci tudo quanto experimentei, até o nome das coisas e das pessoas.
Contudo, posso e devo recomendar-te um bom porte, uma atenção para com os que privam contigo e trabalham no mesmo sítio, com idênticas carências e dificuldades de toda a ordem. Respeita-os porque cada um sente e reage a seu modo.
Desta banda, há ainda uma grande incógnita, mas aprendemos todos, durante séculos, a cultivar a esperança de que Alguém olhe para nós, desculpando-nos dos inúmeros erros cometidos pela nossa leviandade e descuido.
Trata de ti e dos teus, agora. Deixa de estares adormecido, distraído ou voluntariamente alheado do mundo, onde a tua mão deve ajudar a construi-lo com a força da verdade, amizade, tranquilidade, paz, esperança, diálogo, oração e amor.
Está atento, não sejas tu “apanhado” a dormir. Aí, não há remédio que cure as feridas nem as omissões.
Adeus!
Teu (???)
