Haverá, naturalmente, alguém a afirmar, porque assim pensa e sente, que “com o tempo tudo esquece”. Na verdade, existe muita memória curta, sobretudo, se as pessoas pretendem que determinados casos não sejam propalados, interminavelmente, tendo todo o interesse que passem ao rol das coisas esquecidas. Isso acontece sempre que alguém, implicado nalguma situação mais complexa, procura, a qualquer custo, fazer com que as suas obras e cometimentos em causa não sejam conhecidos ou divulgados.
Mas é bem de ver que, acerca das situações vexatórias que podem destruir o responsável fautor, há todo o esforço para fazer calar a voz pública de um povo que, parecendo paralisado ao lado das realidades, dá por elas e comenta-as, habitualmente, até em tom negativo.
A memória dos humanos possui uma enorme capacidade, mas, aos poucos, enfraquece em todos. Porém, nem por isso, o que se faz, constrói, destrói ou transforma deixa de prevalecer em si mesmo, embora a lembrança disso se vá desvanecendo, porque acompanha a decadência física e anímica de cada um. As mentes cansam-se e acabam por perder o conhecimento, por vezes, muito precocemente, mas as realidades conseguidas jamais deixarão de ter sentido e valor. Que o homem esqueça é natural, mas algo que já existe jamais alguém pode travar, imaginando que ninguém lhe dá apreço.
O tempo não esquece o Homem com todas as suas virtudes e defeitos. O contrário é que será a verdade porque o homem tenta ocupar-se com subterfúgios para “perder tempo”.
A História tem a função de reavivar, a cada instante, coisas boas ou más e nós estudamo-las, fazendo coincidi-las com tudo quanto há, hoje, para fazer parte do nosso dia-a-dia, levando-nos a confrontar vidas e comportamentos.
Decerto, existirá quem tem sempre em atenção o adágio e dele se aproveita para não assumir compromissos nem pagar dívidas. Afinal, o tempo nunca esquece nada e ficará a reclamar, eternamente, o cumprimento integral racional de tudo quanto é justo, base de convivência, seriedade e lealdade sadias recíprocas.
Para pagar dívidas e honrar os compromissos assumidos não será necessário que isso esteja exarado nos compêndios, pois faz parte, de forma inata, da conduta de um povo e seus membros, como algo que nasce com o carácter do próprio indivíduo. É grave alguém convencer-se de que o tempo varre para a berma do caminho aquilo que deveria permanecer bem vivo no intelecto e na razão.
O universo dos homens parece ir diluindo-se de modo à competência deixar de fazer parte do carácter de qualquer ser que preza pensar e agir em conformidade.
Frequentemente, e por contraste, reparamos como alguns cientistas, arqueólogos, analistas e outras autoridades do pensamento procuram calcorrear caminhos do passado no propósito de afirmar, perante toda a Humanidade, que a História é sempre encontrada e revivida nos seus pormenores tradicionais, votando-a à admiração e respeito por aquela gente que foi cabouqueira do Homem, abrangendo a sua total essência.
O pecado está em determinados Institutos ou Escolas de Instrução não darem firmeza a ninguém, porque omitem reavivar na memória comum a fantástica obra de tantos dos nossos antepassados.
O tempo corre célere, mas impávido e sereno, frente a tudo quanto possam dizer sobre o seu trabalho de fazer esquecer as variadíssimas vicissitudes que compuseram sempre a veracidade da vida de todos.
Saibamos também compreender e testemunhar que o tempo passa, mas nada esquece. Nós, homens, é que nos alheamos quando isso dá jeito às nossas negligências ou maldades.
