A 30 de Junho 2026, a FPF e a Liga (com novos presidentes) têm de entregar à Autoridade da Concorrência uma proposta de centralização dos direitos televisivos, aprovada por unanimidade por todas as SAD, para entrar em vigor apenas na época de 2028/2029, por os contratos em vigor individualmente só terminarem em 2028.
Com 36 clubes profissionais (18 em cada divisão) com ambição e dimensão tão diferente, custa-me acreditar num entendimento antes do prazo se extinguir. Caso em que será o governo que sair destas eleições a definir os termos do modelo. Seja quem for que ganhar, não terá a coragem – nem o saber – para o fazer e estou em crer que a decisão será adiada, abrindo a hipótese dos clubes voltarem a negociar contratos televisivos individualmente… o que será um problema.
A discussão nesta altura reside na forma como o “bolo” do dinheiro se vai distribuir – o que pode resultar num ingerível bloqueio.
No entanto – e tal como tem acontecido na política – parece que todos se preocupam com a distribuição e poucos com o aumento do negócio global do futebol português de clubes.
O novo modelo económico deve responder a estas duas questões: o tamanho do bolo e em quantas fatias se vai dividir – o que determina o tamanho de cada fatia.
O futebol, para ser rentável e sustentável, necessita dum modelo de negócio que seja atractivo para vender no mercado global: competitividade, espectáculo, estádios cheios e emoção.
Não há balas de prata ou soluções únicas milagrosas. Mas no meu entender, um passo essencial – mas que não há coragem sequer para o discutir – seria a redução do número de equipas profissionais… para 20.
Imagine o leitor a 1ª divisão (e também a 2ª) com apenas 10 equipas, num campeonato a 4 voltas (36 jogos em vez dos actuais 34). Dois Sporting x Benfica e dois Benfica x Sporting… Os 4 ou 5 primeiros vão à UEFA. Os últimos 2 descem de divisão. Competição a sério até à última jornada, sempre.
Menos clubes a discutirem o mesmo (maior?) bolo do dinheiro, dos jogadores, dos adeptos, …
Claro que alguns clubes tenderão a acabar – o que sendo o caso, significa que nem deviam cá andar. Mas por outro lado, teríamos mais clubes com condições para ser grandes, para ser mais profissionais, com mais recursos. Resultados mais ligados ao mérito e menos ao “autocarro”.
Acabar de vez com jogos da 1ª divisão com menos de 1000 adeptos no estádio e entre equipas que não dão espectáculo.
E este aumento de qualidade do espectáculo afectaria também a 2ª divisão.
Portugal não tem população, cidades ou rendimento que suporte mais de 10 clubes – se de facto quisermos ser um player relevante.
Números:
- Espanha, Itália e Inglaterra têm 20 clubes na 1ª divisão. Mas 4, 6 e 7 vezes mais população, respectivamente.
- Portugal tem a sua população dividida por 3 ou 4 cidades relevantes. Os outros países têm dezenas.
- O PIB per capita português é de €25.000. Espanha é de €33.500, Itália €40.000 e Inglaterra €47.500.
- Portugal teve 5 campeões nacionais em toda a sua história (contando com Os Belenenses, e o Boavista, acasos). Espanha, mesmo com a hegemonia de Real Madrid e Barcelona já teve 9. Itália e Inglaterra contam com 17 cada.
Racionalmente, é difícil contradizer esta ideia. Mas se fosse racional, o futebol já tinha olhado e se inspirado no rugby para ser mais sério, competitivo, espectacular e justo.