Se há eleição em que o voto útil faz sentido, é a presidencial: não há segundos lugares. O que devia desde logo desincentivar o voto em Ventura, que não ganha sequer ao rato Mickey na 2.ª volta.
Por isso Cotrim, que vale mais que a IL, perderá percentagem conforme nos aproximarmos das eleições.
À esquerda, compreendo que Livre, BE e PCP lancem os seus candidatos para marcar posição. Já não percebo que o seu eleitorado desperdice o voto da esquerda neles. Muito menos os “neossocialistas” – definição de Henrique Monteiro para os que, por não terem nascido ou estarem do outro lado, não eram socialistas no combate pela liberdade, contra a unicidade sindical, o domínio do PCP em governos provisórios, etc..
Ao não votar em António José Seguro, esta esquerda está condenada a votar em Marques Mendes na segunda volta.
A esquerda que foi capaz de formar a geringonça com a cola da situação económica, é a mesma que não se consegue juntar para travar a direita-radical e populista. O dinheiro a valer mais que a ideologia à esquerda. Irónico.
Mesmo que odeiem Seguro, será melhor para a esquerda não ter ninguém numa segunda volta e deixar a decisão entre candidatos de direita?
Que fez Seguro para merecer esse ódio de parte do PS? Nunca fez parte do grupo de Sócrates, mantendo sempre um silêncio responsável; aceitou a facada de António Costa – que se tinha comprometido a não lhe disputar a liderança – com a dignidade que Costa nunca terá; teve a coragem de denunciar em directo e na cara, António Costa como o representante do PS dos negócios; nunca veio cobrar a derrota de Costa contra Passos; não armou uma divisão no PS quando Costa e Pedro Nuno levaram o partido para um estado comatoso.
Foi sempre um socialista centrista, na tradição de Soares e fez de tudo no PS.
Seguro é um português comum, honesto, impoluto, experiente politicamente. Não representa interesses, não é radical, tem sensibilidade social, mas não é estatista. Não sendo carismático, é confiável.
Gouveia e Melo prometeu no início… até abrir a boca. Tem demonstrado inabilidade a defender as suas posições, várias vezes contraditórias. A sua frase mais ouvida é “eu não disse isso, o que eu disse foi…”.
Esta súbita e reiterada forma de atacar Marques Mendes com insinuações de opacidade, parece-me desligada do perfil que tinha mostrado. E levanta-me questões sobre a sua independência. Sim, é independente dos partidos. Mas será independente dos seus conselheiros? Este estilo de guerrilha enlameada não lhe é natural. É legitimo perguntar se vem de quem o influencia. E se é influenciável agora, não o será como PR? E então vou mais para trás, há 4 anos, quando pediu uma corda para se enforcar se avançasse para a corrida presidencial. Foi ele que mudou ou foi empurrado? Conhecemos alguns desses conselheiros: Isaltino, que dispensa apresentações; Rui Rio, o homem responsável por dividir o PSD e empurrar Ventura para a criação do Chega; Luís Bernardo, militante do PS, assessor de imprensa de Sócrates, alvo de buscas em 2024, dono da WLP, a 3ª empresa de comunicação com mais contratos com o Estado.
E há ainda aquele almoço mal explicado em casa do milionário Mário Ferreira, com André Ventura.
Se António José Seguro e Marques Mendes assegurarem o seu eleitorado natural, o do partido de onde provêm e do voto que é útil, passam ambos à 2.ª volta confortavelmente.
Que seja entre estes dois que estejamos a discutir a 8 de Fevereiro.
ET 1: A ironia de Ventura ser o candidato que não cumpre a lei e a determinação do tribunal
ET 2: Manuel João Vieira é um enorme artista – não só músico
ET 3: Feliz 2026
