Assine já

Manuel Armando

Padre

Promessas, notícias e interpretações

Eu gostava muito de adivinhar. Contudo, nisso, como noutros meandros e empreendimentos, sou mesmo um falhado.

Na vida de todos os dias deparo – a toda gente assim acontecerá, de certeza, – com variadíssimos momentos difíceis, ocasionais, fáceis, abertos, simples, complicados, inesperados, supostos ou reais que têm sentido provindo de quem os ocasionou ou são fruto da própria natureza fortuita da existência a que havemos de prestar atenção para aproveitar tudo o que se revele em favor do nosso viver pessoal ou social.

Afigura-se-me sempre bastante difícil, sobre os diversos acontecimentos, fazer uma interpretação cabal que me seja útil e não prejudique ninguém e o meu parecer não incite outra pessoa a tomar um caminho menos certo ou desequilibrado.

Ora sucede, realmente, em diversas ocasiões, sermos levados por comentários desacertados, mas que nos parecem verosímeis. É que quando, depois, chegamos ao conhecimento honesto pelos testemunhos reais e nos achamos gorados ou enganados, logo a nossa desilusão nos faz duvidar de tudo e de todos na labuta do nosso quotidiano. Aí, se temos problemas a resolver, eles recrudescem e tornam o nosso mal-estar mais intenso, arrastando consigo um desequilíbrio em tudo quanto poderia ser autêntico, mas sobre o que desconfiamos, emocional e sistematicamente. Algumas ocasiões e factos mal interpretados podem criar na nossa mente uma insegurança sobre tudo aquilo que poderíamos elaborar de positivo na personalidade pessoal, aceitando, sem peias, quanto nos é dito e dado a conhecer como verdade.

Por exemplo, o trabalho aturado de um jornalista será comunicar um acontecimento, mas sempre baseado na visão e experiência de cada dia, visual e pessoal dos assuntos em causa. Quando apenas narra o que ouve da boca de determinadas pessoas que se dizem testemunhas, sujeitam-se, isso sim, a desvirtuar o que aconteceu, conduzindo a uma instabilidade social, causadora de calafrios escusados ou a notícias falsas e, até, a desaguisados em quaisquer comunidades cujos membros interpretam os factos, cada um a seu modo, teimosa e intransigentemente, sem admitir que os outros, caminhando a seu lado, possam observar certos factos sucedidos e a vida, segundo os seus critérios pessoais diferentes.

Julgo não estar errado pensar que quando, em conversa, os intervenientes nos diálogos entram naquele consenso de que cada um tem uma parte de razão naquilo que vê criteriosamente e acata o mesmo dos seus interlocutores, se chega à evidência e possibilidade de construir entendimento, amizade e paz.

De contrário quem exige para si só a razão da visão real dos acontecimentos, vai armando uma divisória e perdendo a força da sua posição perante o seu semelhante interlocutor e criando um fosso inibitivo em ordem a qualquer diálogo futuro.

Na conversação franca se forjarão os grandes empreendimentos idealizados como também na troca honesta e humilde de opiniões poderá haver uma verdadeira e segura interpretação de tudo quanto eleva a sociedade até àquilo para que foi criada – o bem de todos a partir da felicidade e sabedoria de cada um.

As promessas, em quaisquer situações preparatórias de algo, num futuro mais ou menos próximo, poderão ser muitas e variadas, mas quando resumem interpretações pessoais daquilo que não viram, a possibilidade de aceitação dos outros não passa de ventos que fazem estremecer as ramagens, mas não derrubam as árvores, muitas vezes, milenares.