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Manuel Armando

Padre

“Salvadores” do mundo

Há quem se apresente como grande salvador do Universo. Contudo, não me ocorre, de momento, imaginar sequer como o pode alguém ser, pelo menos, isolado de quaisquer outros consortes e forças de trabalho.

Durante o tempo de propagandas eleitorais, os candidatos a qualquer coisa prometem mundos e fundos, como se o desenrolar da vida humana dependesse apenas deles e das suas apregoadas doutrinas ideais.

O facto é que não se pode confiar, sem mais, em promessas de quem não mostrou nunca qualquer poder nem, a avaliar pelos seus discursos vazios, fazer algo que não sabe porque, jamais, experimentou ou se habilitou, com certos suportes intelectuais, a entender quanto necessita de mudar na sua vida pessoal.

Quem concorre a um lugar proeminente, seja qual for, terá de acautelar todo o seu agir, pois irá deparar-se com diferentes ideias, planos, aspirações, experiências e modos de estar em comunidade, esquecendo-se de si, de quanto possui e sabe, dando ainda oportunidade aos outros para também exporem a sua ideologia.

Portanto, quantos aspiram a tais posições cimeiras na sociedade organizada, não podem, somente, arvorar-se em heróis, capazes de atingir determinados limites sem trabalhar. É preciso pôr de parte qualquer fama e renome. Quem esgrima para obter um primeiro lugar, apenas por bazófia e sem sentido dos outros, está votado ao fracasso e vergonha, formulando uma escolha vazia e falsa de um valor ou estado que não tem nem é capaz de descobrir. Deve, pois, considerar e procurar bases sólidas logo nos primeiros momentos de vida activa para enfrentar acusações de incapacidade ou inutilidade e prosseguir a apregoar aquilo que pensa e julga seguro.

Grandes figuras – assim se exibem como tal – agarram-se, no meio de determinados casos mundiais, à veleidade de demarcar uma sabedoria que não possuem. Depois, e por isso, é frequente vermos meterem os pés pelas mãos sem saberem como parar. Fazem, facilmente, promessas que outros serão chamados a cumprir. E, aí, claro, falham porque nem toda a gente concorda fazer prática das frioleiras de outrem.

Ceder um território a quem, antes, diabolicamente o usurpou com intuito de cantar vitória, é esquecer cobardemente a destruição de vidas e imóveis, ou a morte que alastrou, as dúvidas que ficaram, as ameaças permanentes que não cessam, repito, bajular esses tais energúmenos é destruir a humanidade e tudo quanto a constitui, vitimando a paz que jamais voltará.

A ser verdade, neste prisma, garantir-se, tão aereamente, por exemplo, o fim da guerra russo-ucraniana, baseado no abandono gratuito das leiras e gentes massacradas, é perder-se, assim, uma identidade humana. A olhar-se a atitude do governante Trump que mostra querer interagir dessa forma enigmática com o seu amigo e comparsa Putin, apregoando-se os dois solipsistas como heróis salvadores, ninguém poderá descortinar nenhum final concreto desta fatídica tragédia tamanha que assola e destrói a tranquilidade do mundo inteiro.

Apetece-me, sim, perguntar a ambos, sem timidez nem tibieza: – «mas que putin de trampa vem a ser essa que pretendeis engendrar?!»