É verdade. Vão todos admirar o meu gesto e decisão nesta idade e com alguma experiência alicerçada apenas na leitura dos variados comentários inseridos nos jornais desportivos ou ouvidos através dos canais televisivos. Uns e outros valem a pena serem aproveitados porque, habitualmente, são produzidos para discussões acesas por gente que, provavelmente, nunca terá jogado futebol. Lendo ou ouvindo, procuro imaginar bastantes coisas sobre temperamentos e modos diversos de estar a par daqueles grandes acontecimentos que galvanizam e entusiasmam milhares de pessoas e fazem correr rios de tinta.
A minha decisão – já quase me esquecia dela – é propor-me à aventura de treinador de futebol. Que acham? Não será muito incomum e eu sinto-me empolgado para tal. Logo que entre em algum clube de nomeada, farei um acordo real de amizade com os jogadores activos porque eles é que sabem quando e como alcançar vitórias, enquanto o treinador observa e se limita a algumas dicas. Isto já eu aprendi há anos atrás. Como os operativos, nos jogos, não têm grande apego à camisola que envergam, porque é indumentária de uso leve e passageiro, torna-se preciso ser simpático e acolhedor com todos. É o que irei tentar fazer.
O contrato que assinar será sancionado apenas por um terço daquilo que é a exorbitância de certos mestres da bola. Como estou habituado ao terço, em cada dia, já não será difícil fazer acordo tão singelo.
Depois de confirmado e assinado o pacto mútuo inicial não me afecta ser despedido pela minha incompetência, consciente, analisada e notória. A devida indemnização justa e legal pagará a viagem de regresso e sustentará o aluguer do telefone através do qual irei estabelecer ligação com gente de outro clube importante que se apresente interessada no trabalho tão singular de um indivíduo como eu.
Agora, é a época de defeso, mas já muito barulho se ouve à volta dos milhões exigidos por pessoas como eu e tu, mas porque aprenderam a dar uns pontapés no esférico exigem então serem redimidas com uma quantia astronómica. Reitero, pois, o que disse acima: – faço qualquer contrato por uma “terça-parte”.
E por tudo já me parece mesmo “ouvir” o som claro e inquieto dalguns telemóveis de grandes senhores da bola a perguntarem-me sobre a minha disponibilidade. É evidente que estou sempre livre e a planear estratégias inovadoras. Uma delas é apontar que a habilidade de levar os outros a jogar seja mais barata e assim o mundo da moeda possa vir a abranger mais seres humanos que morrem ressequidos no seu esqueleto, sem que uma bola possa transformar-se em pão.
A exemplo de muitos e bons desportistas, no caso de chegar a converter-me em treinador, onde quer que seja, mesmo com um despedimento por mês, prometo fazer com que algumas bocas possam mostrar novos e largos sorrisos, como ainda as lágrimas deixem de lavar o chão que pisamos, distraídos.