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A. da Gândara // Anadia // Bairrada  

Amoreira da Gândara: Luísa Pato produz azeite para restaurante com estrelas Michelin

Diz o ditado popular que “filho de peixe sabe nadar” e, na verdade, no coração da Bairrada, no concelho de Anadia, Filipa e Luísa são exemplos disso. Filhas do consagrado produtor vitivinícola Luís Pato, ambas estão ligadas ao torrão que as viu nasceu. Filipa optou por seguir as pisadas do pai e é, hoje, a par de Luís Pato, um dos nomes maiores na produção de vinhos de qualidade na Bairrada.

Produtora de azeite. Luísa seguiu um rumo ligeiramente diferente – é uma promissora produtora de azeite, um dos produtos tradicionais e seculares, reconhecido hoje como muito benéfico para a saúde, mas também apreciado pela sua versatilidade na gastronomia e na dieta mediterrânica.
Com a paixão pela terra a correr-lhe nas veias, a filha do meio do produtor Luís Pato, com apenas 35 anos, está a trilhar o seu próprio caminho no setor agrícola, aventurando-se no mundo do azeite.
“O meu pai e a minha irmã já estão lançados no mundo dos vinhos. Não tinha sentido eu dedicar-me à mesma área”, admite a jovem licenciada em Engenharia e Gestão industrial, que decidiu trocar as quatro paredes de um gabinete pelo campo.
“Gosto de campo e da aldeia e sempre me fascinou o ar livre. É como um SPA do dia a dia”, avança, admitindo que a cultura da oliveira e a produção do azeite são um património ancestral na região, mas subaproveitado. Como na casa de lavoura dos bisavós já se produziam azeite, vinagre e vinho para consumo doméstico, agora a jovem Luísa está apostada em transformar a produção de azeite num produto de referência.
O berço do projeto é a Quinta do Ribeirinho, na Relvada (Amoreira da Gândara). “Adoro esta quinta. Sempre gostei deste local. O meu bisavô já aqui produzia azeite e foi nesta quinta que me casei. Por isso, tem um grande significado para mim”, revela, admitindo ainda que cedo se apercebeu de uma lacuna na região, que embora tenha muitas oliveiras galegas a delimitar as zonas de vinha, estas estão subaproveitadas, sentindo-se também uma lacuna na produção de azeite de grande qualidade. Por isso, decidiu apostar toda a sua energia neste produto, legado da família, mas que vê como “um filho”. “Este azeite é como que um filho para mim. É o meu primeiro produto, pelo qual sou inteiramente responsável”.

Azeitona galega é a melhor. A Quinta do Ribeirinho faz parte da família Pato desde o século XVII, emprestando agora o nome não só a um vinho (Luís Pato) mas também ao azeite, produzido por Luísa Pato. Aqui é rainha a azeitona galega, uma espécie autóctone da Bairrada que se caracteriza por ser uma azeitona muito pequena, mas com um caroço grande, e cuja rentabilidade não ultrapassa os 8%.
“Aqui as oliveiras produzem ano sim, ano não”, avança, e como produtora ainda recente que é, vai buscar alguma matéria-prima à zona da Guarda, onde comprou parte da azeitona que utilizou na produção do primeiro ano. O processo na produção de azeite é simples e a opção recaiu na extração a frio.

Azeite gourmet. A reduzida produção – uns escassos 200 litros – foram imediatamente todos vendidos para o belga “Hostellerie Le Fox”, restaurante detentor de duas estrelas Michelin, que funcionou como uma alavanca do projeto, que se quer afirmar como uma referência na produção de azeite de elevada qualidade na região. Um alento que levou Luísa Pato a aventurar-se, de corpo e alma, este ano na produção de mil litros.
“Este ano comprei mais quantidade de azeitona na Guarda, ao mesmo agricultor e já tenho produção própria. Para o restaurante belga vendi a mesma quantidade e vou começar a exportar para o Brasil.”
“Sigo todo o processo muito de perto. As oliveiras da Quinta do Ribeirinho são centenárias e dali consigo uma produção de 200 litros, que vai para o azeite Essência da Quinta do Ribeirinho”. Um topo de gama, já que as garrafas são de apenas 1/4 de litro e cuja rentabilidade é de apenas 8%. A restante azeitona galega que compra é proveniente de oliveiras biológicas e totalmente apanhada à mão, na Guarda.

Mais área de plantação. “Já plantei mais meio hectare de oliveiras na Quinta do Ribeirinho, mas para o ano vamos expandir e plantar mais dois hectares, porque o solo é bom. Como uma oliveira demora cerca de 4 a 5 anos a começar a produzir, a rentabilidade do investimento não é imediata”.
É num lagar da região que acompanha a produção do azeite. “O meu azeite caracteriza-se por ser picante, ter bastante corpo e ser muito aromático porque é puro, muito estruturado. É um azeite da Bairrada que até tem características muito idênticas ao vinho da região”, revela, dizendo que “quem gosta do vinho Luís Pato, com as suas características da Bairrada, vai com certeza gostar muito deste azeite. Combinam os dois muito bem numa refeição”.
Para já, desenvolveu uma imagem muito cuidada da garrafa e do rótulo, com ajuda de Maria João Pato, irmã mais nova do clã Pato, e do Grupo Marques Associados.
O azeite encontra-se em garrafas de meio litro, muito elegantes e com uma roupagem sóbria e delicada. Com um conceito gráfico inspirado na arquitetura da Quinta do Ribeirinho que empresta o nome à marca do azeite, o rótulo foi desenvolvido tendo como imagem principal um esquiço da casa, envolvido por uma gota (formato do rótulo) de azeite.
Direcionado para um público médio/alto e principalmente para as cadeias de restauração e hotelaria, é um produto que se destaca no mercado quer pela qualidade do azeite, quer pela sua imagem moderna.
Luísa Pato acredita que, pouco a pouco, a região e o país vão conhecer este azeite, mas que prefere dar passos pequenos e sólidos, num projeto que não deixa de ser ambicioso e que poderá passar também pela produção de uma “manteiga de azeite”. “Como é um azeite muito saudável, encorpado que, com o frio, coalha, estou a pensar fazer uma experiência com manteiga de azeite”, diz, revelando ainda estar para lançar também um vinagre. As barricas com o vinho já existem há muito e dentro de dois anos, poderá sair para o mercado um vinagre gourmet, produzido artesanalmente, nascido no mesmo berço do azeite.
O destino destes produtos é o mercado nacional (lojas gourmet e garrafeiras), mas em especial o exterior, devendo parte desta produção de azeite rumar ao Brasil.

Catarina Cerca