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João Pacheco Matos

joaopmatos@hotmail.com

As piores eleições da III República

Queria ter escrito este artigo antes das eleições, mas valores mais altos se elevaram, nomeadamente afazeres da maior importância no sábado passado, entre o estádio José de Alvalade XXI e o Marquês de Pombal, na celebração do 25.º título maior do futebol português pelo Sporting Clube de Portugal.

Esta campanha eleitoral foi – não há outra palavra, lamento – miserável.

Os partidos trocaram conscientemente a política pelo entretenimento. As ideias de fundo pela piadola. A entrevista política com jornalistas pela simpática charla com entertainers.

Ninguém falou de educação, de Trump, da guerra. Nada sobre economia ou desenvolvimento. Silêncio sobre a reforma da estrutura do Estado.

Apenas a notícia do dia: Spinumviva, imigrantes, refluxo esofágico, lei dos solos…

A ideia de que as pessoas votam no “gajo mais engraçado” está errada, independentemente do que dizem os focus group. Se lhes derem mais do que entretenimento.

Os partidos, se não tiverem vergonha de si mesmo e da sua história, não devem ter medo da ideologia. Mostrem o que pensam. Defendam abertamente o que acham melhor para o país. E deixem as pessoas escolher de forma informada.

Confirma-se que falar ao eleitorado no terreno dos populistas é dar-lhes a vantagem de jogar em casa. O centro político tem de puxar o jogo para o seu lado, falar no seu terreno.

As pessoas não são estúpidas. Se o centro só lhes dá “populices”, então são os populistas que ganham.

O dado mais relevante das últimas eleições é que a percentagem de eleitos do conjunto dos partidos iliberais, de tendência totalitária ou populista (Chega, PCP, BE, PAN, JPP) é de 30%. O dobro de 2015 e 2019, o triplo de 2022.

Ainda sem contar com o estrangeiro, o PS perdeu 365 mil votos. O Chega aumentou 236 mil e o PSD 140 mil. Numa análise grosseira, o PSD ficou com 38% dos votos do PS, mas o Chega ficou com 65% desses votos!!! O aumento de 21,4% dos votantes no Chega demonstra definitivamente que o bipartidarismo acabou (para aqueles que estavam a dormir em 2024), que não é só voto de protesto vindo da abstenção e que de facto há uma enorme transferência da esquerda populista e da esquerda conservadora para a extrema-direita (para aqueles que estavam a dormir em 2022).

Para o PSD há uma melhoria, mas apenas aparente. O sucessor de Pedro Nuno Santos irá inevitavelmente condicionar o espaço e as opções de Montenegro.

A AD sozinha, com mais deputados que toda a esquerda, até pode governar com alguma tranquilidade pelo menos durante dois anos. Mas para reformar está dependente da postura do futuro Secretário-Geral do PS. Se mantiver o PS na infantil posição de bloqueio, dá ao Chega o poder de decidir quando se abstém. Por outro lado, se fizer como Marcelo bem fez com Guterres entre 1996 e 1999, manterá o Chega à distância das decisões de poder e poderá permitir algumas reformas.

Se daqui a 4 anos o país estiver melhor, o Chega terá mais dificuldade em capitalizar.

Confesso que, mesmo cansado da festa de sábado, custou-me a adormecer no domingo.