Assine já

João Pacheco Matos

joaopmatos@hotmail.com

Écrans: telemóveis, internet, redes sociais e videojogos

Frustração, falta de empatia, mau desempenho intelectual, alterações do sono, comportamentos hostis, impulsividade, falta de criatividade e imaginação, dependência acentuada, ansiedade, tendências suicidas, isolamento, falta de confiança, distorção da imagem própria, incapacidade de criar ou manter relacionamentos, falta de contacto físico, resistência ao namoro, pornografia, obesidade, doenças cardiovasculares, isolamento, depressão, perturbações da atenção, empobrecimento da linguagem e falta de vocabulário, sequelas sobre a inteligência, incapacidade de compromisso, falta de autonomia, dificuldade em tomar decisões, baixos índices de concentração, incapacidade de interpretar textos, aumento da violência no namoro.

São alguns dos efeitos verificados em estudos sérios, por universidades americanas e europeias em crianças e jovens – mas também cada vez mais visíveis em adultos.

Parece exagerado? Acrescento esta, retirada do livro “Fábrica de Cretinos Digitais”, de Michel Desmurget: “os nativos digitais [os jovens de hoje] são os primeiros filhos a terem um QI inferior ao dos pais”. É a primeira vez, em 300 mil anos, que há uma regressão do homo sapiens.

Recomendo outro livro: “Geração Ansiosa”, de Jonathan Haidt.

Não só para pais, mas também para professores e escola. E decisores políticos locais com interesse na educação.

Sou pai de duas crianças, 8 e 11 anos. Terão telemóvel quando pediatras e cientistas o indicarem – para já o consenso está nos 16 anos, após a formação completa do córtex pré-frontal, responsável pelo controlo das emoções.

Custa dizer “não” aos filhos, mas essa é (devia ser) uma função primordial dos pais.

No entanto, as minhas filhas não são ilhas e preocupa-me a qualidade do meio escolar e social em que vivem. Na escola, além da educação individual, também se educa uma geração.

Há tempos, fiquei chocado quando uma professora de Lourosa – da primeira escola pública a banir telemóveis, em 2017 – disse em entrevista que após a proibição dos telemóveis, voltou a haver barulho no recreio. Nunca me tinha passado pela cabeça a ideia de um recreio silencioso…

Fernando Alexandre é o melhor ministro deste governo. E o primeiro Ministro da Educação a olhar para a educação e para os alunos desde Nuno Crato – pelo meio só houve ministros dos professores.

A decisão de proibir os telemóveis no 1.º e 2.º ciclo tem tanto de corajosa, como de moral. E devia ir até ao 9.º ano, dizem os especialistas.
Surgiram duas linhas de oposição a esta medida.

Alguns professores, por um lado, que defendem a utilização do telemóvel para dar aulas. Os argumentos são tão estapafúrdios que nem os vou listar. Deixo apenas o que acho que é a verdadeira preocupação destes (poucos) professores: não querem ter o trabalho e a responsabilidade de controlar os telemóveis dos alunos.

Por outro lado os libertários, liberais desmesurados, cowboys do proibido proibir, que defendem que devem ser só os pais a educar as crianças para a moderação do uso do telemóvel. É uma bonita ideia, que esbarra na óbvia realidade: os próprios adultos (e pais) são os primeiros a não saber usar o telemóvel de forma ponderada, pelo que não será certamente pelo exemplo que vão ajudar os filhos.

As crianças têm o direito ao desenvolvimento saudável. À saúde mental. Tal como à segurança e saúde física. Ninguém questiona a proibição do consumo de álcool e drogas por menores. Ou de fumar ou jogar no casino. Os écrans são mais uma dependência.

Termino com uma questão: qual o papel que as autarquias querem desempenhar, sabendo que uma parte importante da gestão das escolas passou para as câmaras e que vamos ter eleições dentro de meses?

Boas férias.