Não é difícil fazer a guerra. A paz é mais exigente e subentende bastante trabalho, aplicação, renúncias, ideais positivos duradouros, humanidade, sentido sadio de ser, esperança em dias melhores e o mais que só se descobre com o empenhamento pessoal ou comunitário e quando as pessoas tiverem a plena e inteligente noção do seu destino de bem-estar.
É que tal felicidade aparece como algo a viver-se de momento a momento, mas isso nem sempre se vislumbra bem. Tudo quanto se faz deve ser um lastro onde assentará aquele estado de nobreza suprema e eterna a que todos os homens são chamados, embora com a exigência de trabalho e seriedade.
Poderá tudo isto parecer tempo perdido porque a confiança paira ou navega sobre areias movediças, sem consistência e arrastadas pelo vento, mesmo que leve. Cada pessoa deverá ter na sua mente o desejo e o fito de atingir a verdade.
Para se chegar ao auge é necessário e urgente entender e levar a vida com o seu valor e sobressaltos de cada dia.
A paz dependerá também da consciencialização sobre o fim último que se alcançará com justiça, sendo isto um desejo plenamente humano e bom, o que implica, portanto, grande esforço e nunca o descuido individual.
Quando e onde, por inconsciência preguiçosa, se esquecem os fins a atingir, o viver é uma permanente inutilidade, porque se apresenta oco e passageiro.
Utilizam-se, com frequência, os dotes naturais pessoais do modo mais frívolo, inútil e até maldoso. Ora, daí até acorrentarem-se os indivíduos aos desperdícios e inanidade é um saltinho de pardal.
E, se porventura, as capacidades de cada um não se acham úteis, deitam-se na cloaca da guerra o que em nada dignifica os seus fazedores, levando, sim, à destruição e morte da dignidade de todos enquanto o mundo se vai tornando desvairado.
Para armar dissensões basta termos a teimosia de saber tudo e os outros, nada. Não se aceitar as opiniões alheias cava um fosso enorme na comunidade e, em variadas circunstâncias, conduz alguém ao mais baixo da existência humana.
Abraçar as ideias dos outros parece considerar-se já uma atitude heroica, pois supõe um despojamento da vaidade que, habitualmente, é apanágio da arrogância de alguns.
Só para desanuviar um pouquinho, consulte-se tudo quanto passa diante dos nossos olhos, via “internet”. Acerca de qualquer tema por mais evidente e claro que se apresente, logo se multiplicam opiniões diversas que poderiam ser tratadas com a naturalidade e singeleza do assunto exposto. Todavia, se abrirmos, mesmo com boa intenção, qualquer “post”, versando determinado assunto evidente, logo de imediato, surgem alguns comentários convenientes ou proliferam as críticas mais inadequadas e absurdas, porque escoradas na ignorância e intolerância arrogantes. Aí as boas intenções desaparecem para se abrir uma guerra sem razão nem tréguas.
É vexatório observar o chorrilho de asneiras, insultos, acusações, má-criação e mais, numa viagem até ao fundo da indelicadeza, tantas vezes, provocada pela ignorância crassa e desavergonhada acerca de tudo.
Aqui o desaforo quer prevalecer, fazendo transparecer a baixeza do carácter de certas pessoas que se aparentam com os bichos mais peçonhentos e sórdidos da Natureza.
Nisto e noutros numerosos pormenores se provoca, indecentemente, a guerra com a qual nada se aprende, mas que causa náuseas e embaraços a quem ainda vai cultivando o senso, a humildade e o verdadeiro saber.