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Jorge Mendonça

Oliveirense

Alea jacta est!

As cores da noite eleitoral do passado dia 12, oscilaram entre a das laranjas, a das rosas, a do céu e do mar, o verde dos independentes e a negritude representativa da personificação dos perigos, medos e tempestades.

É exactamente sobre esta panóplia de cores que importa fazer uma primeira reflexão, realçando desde logo o pesadelo fantasmagórico que sobre alguns se abateu, confrontando-os, pela primeira vez, com o amargo sabor de uma derrota que julgavam impossível.

Paredes meias com esta realidade, vivemos a sensação de que afinal há algum bom senso nos eleitores portugueses.

Há agora que aguardar, para se perceber se estes derrotados são capazes de entender que com apenas 12% dos votos expressos e 3 câmaras ganhas, não podem inflar o peito a dizer que representam a vontade do povo…

Esperemos que com estes resultados aprendam o que é a humildade, a consideração e o respeito democrático.

Analisando agora o acto eleitoral autárquico em si mesmo, vejamos o que, na frieza dos bastidores, nos dizem os números a nível concelhio.

Desde logo, não basta ver quem ganhou; é preciso perceber quem perdeu votos, quem os recuperou e, sobretudo, se para os oliveirenses alguma coisa mudou desde as legislativas de Maio.

Importa assim, começar por realçar o aumento da abstenção já que os 11.848 votos agora expressos representam 1.319 votos a menos do que os 13.167 expressos em Maio.

Este é um claro alerta para a crescente distância entre a política e os cidadãos, mesmo num contexto local, sendo interessante verificar quem ficou em casa e porquê.

Como segundo ponto de análise, o facto de, apesar da diminuição do número total de votantes, Duarte Novo e a sua equipa terem logrado aumentar, na eleição para a Câmara Municipal, de 4984 para 5381 votos (mais 397 votos), tendo José Soares somado 3991 votos, mais 109 do que aqueles que tinha alcançado há quatro anos (3882).

Este aparente contrassenso, chama à colação a votação obtida pela coligação PPD/PSD + CDS/PP nas legislativas de Maio passado, em que obteve 6342 votos, tendo o CHEGA obtido 3299 votos.

Muito embora nestas autárquicas o CHEGA também tenha alcançado mais 558 votos de há quatro anos atrás (532 votos), o que é certo é que nas legislativas de Maio tinham obtido 25,06% dos votos, menos 3043 votos do que a coligação, quando agora essa diferença para os votos alcançados pelo CDS/PP (5381) e pelo PPD/PSD (3991) aumentou para 8.282 votos, tendo em conta os 1090 votos contabilizados na noite do passado dia 12 de Outubro.

O que esta queda abrupta do CHEGA, desde Maio até agora (perda de 2209 votos) torna evidente é que o partido não tem estrutura de proximidade nem quadros locais capazes de converter o protesto em poder autárquico, desaparecendo o voto de descontentamento sobre a governança nacional quando é preciso escolher quem governa o município.

O terceiro ponto de análise, é o recuo do PS, com 855 votos (menos 666 do que nas legislativas de Maio quando alcançou 1521), resultado que indica desgaste e insegurança nas candidaturas autárquicas, verificando-se a habitual migração de parte dos seus eleitores para o voto útil a favor de quem está no poder, como aconteceu agora em relação a Duarte Novo, Jorge Pato e Susana Martins (Luís Rabaça só agora aparece nestas lides); quanto ao mais, a falta de entusiasmo local fizeram o resto.

O quarto ponto de análise, versa sobre os resultados apurados para a Assembleia Municipal e para as Freguesias, bem demonstrativos que o eleitorado distingue entre votar numa pessoa e votar numa estrutura: terá sido essa a razão da reeleição de Acílio Ferreira, Simão Vela, Bruno Seabra e Luís Ruivo.

Quanto à Assembleia Municipal, o resultado eleitoral ditou também uma solução de continuidade, atribuindo à lista liderada por Nuno Barata o maior número de membros eleitos.

Voltando à Câmara Municipal, Duarte Novo mobiliza, não apenas por capacidade de liderança da equipa que o acompanha na Câmara Municipal (Jorge Pato e Susana Martins fazem parte do elenco desde 2017), mas essencialmente por prestígio e reconhecimento pessoal em cada recanto do concelho, sem que, no entanto, as suas listas locais tenham implantação uniforme e poder de mobilização similar.

Duarte Novo e a sua equipa tiveram mais 397 votos do que nas autárquicas de 2021, uma vitória reforçada, construída em torno da imagem da equipa e da capacidade de liderança do seu líder.

O eleitorado oliveirense quis estabilidade e continuidade: mas nas entrelinhas, e porque este será o terceiro e último mandato de Duarte Novo, percebe-se que o desafio seguinte será fortalecer um projecto de consolidação que vá para além da actual liderança, com a mesma dedicação, energia e vontade de servir.

Honra aos vencidos e glória aos vencedores, mas esta glória só será enorme, se houver respeito pelos perdedores, porque se assim não for, perdem os eleitos, perdem os eleitores e perde o município.

Que nesta nova viagem de serviço e responsabilidade, cada eleito cumpra o seu mandato com empenho, seriedade e espírito de missão, e cada munícipe dê o seu contributo para o desenvolvimento e bem-estar da nossa terra, participando nas reuniões da Câmara Municipal e das Juntas de Freguesia, e das Assembleias Municipal e das Freguesias: se assim for, de certeza que o município estará ainda melhor daqui a quatro anos.
Alea jacta est!

Texto escrito ao abrigo do anterior acordo ortográfico, por vontade expressa do autor.