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Manuel Armando

Padre

Do sorriso, ao riso

Sorrir poderá ser o prelúdio de determinada atitude festiva ou satisfação perante qualquer acontecimento, dito, pensamento, gozo, sonegação de algum pormenor de dúvida, desespero ou desprezo.

Seja qual for o seu sentido e significado, o sorriso indicará certamente uma forma de expressão muito humana. Há quem sorria quando não parece ter vontade de manifestar qualquer laivo de felicidade e também quem ria, mas com vontade indómita de chorar.

Cada pessoa pode sorrir, rir ou ficar indiferente, perante os numerosos acontecimentos que sucedem diariamente à sua frente. A interpretação própria e conveniente dependerá da predisposição de quem provoca ou é provocado.

É uma maneira deveras peculiar de entender qualquer caso mais ou menos esperado e que faz parte integrante de uma comunhão de vida entre os membros que se consideram em actividade humana inteligente e consciente.

Há quem sorria para desvanecer a gravidade de um assunto definido e quem o faça, desdenhando de várias tomadas de posição alheios menos pensadas e infelizes.

O homem reage no seu porte, consoante o que vive no íntimo de si mesmo. Os seus propósitos normais nascem do equilíbrio interior anímico que traduz, na sociedade, a seriedade e sensatez de que é dotado por natureza própria. Mas, pode desviar-se da compostura pessoal quando se permite ser apoderado por certos modos de agir menos ortodoxos que afectam frequentemente os indivíduos esquecidos da civilidade.

Rir, dizem, dá e mostra saúde de carácter e humanista. Entre o riso e a vida de cada instante, deverá haver uma coerência que não será forçada, mas espontânea, sincera e transparente.

O sorriso e o riso de uma criança que ilustram qualquer sua pequena diabrura ou travessura são os mais verdadeiros e puros sinais da verdade e verticalidade do seu ser.

Já o mesmo não pode presumir-se de idênticos gestos dos adultos. Estes nem sempre revelam a concordância entre o que pensam e agem. Por vezes, o riso manifesta a submissão que se procura impor aos mais carentes em quaisquer sentidos.

Neste tempo e dadas as exigências circunstanciais, ao passar na rua e olhando as paredes, deparamos com muitos e diversos cartazes de propaganda político-popular, onde os candidatos a determinados lugares de chefia no seu meio ou mais longe se apresentam, todos eles, com rasgados sorrisos como nunca, antes, terão exibido. A isso não escapa nenhum. A boa disposição é ou parece geral e esperançosa nos bons resultados a obterem.

Naturalmente avaliaremos o contraste que se verifica porque bastantes desses sorrisos darão origem a risos sarcásticos e cáusticos, uma vez que se apresentam os profetas das ideias prolixas, mas que, mais tarde, se descobrirão vazias e de planos irrealizados.

É por tudo isso que muita gente, no futuro, irá perder-se de riso!

Texto escrito ao abrigo do anterior acordo ortográfico, por vontade expressa do autor