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Manuel Armando

Padre

Eu pecador me confesso

Bem sabemos que o Homem se tornou imperfeito em Adão e Eva. Segundo acreditamos, por desvio deles daquela precaução que lhes havia sido aconselhada, entrou a maldade no coração humano, agora fragilizado e sujeito às tentações insidiosas que percorrem todo o Universo, desde há muitos milénios.
Parece não haver forma de erradicar do mundo o pecado.

É claro que queremos avaliar o mistério, mas também qualquer um de nós, em cada momento da vida, se vê embrulhado nesta teia, ainda que vamos acreditando que o Deus Pai continua a olhar para qualquer pessoa, porque a ama e lhe concede o discernimento de consciência e a ocasião de uma contrição sentida e séria para que o mal não seja tão abrangente.
Todos os que se preocupam em viver segundo os ditames da moralidade e seriedade do ser criatura, sob o olhar solícito e sempre presente do Deus Criador e Senhor, podem e devem tornar a sociedade do seu meio mais justa, séria e participativa nos seus membros. É um modo de adquirir o perdão e tornar melhor a pessoa que somos.
Parece que a humanidade dos nossos tempos se vai esquecendo dos seus valores mais intrínsecos. Por isso, desespera ao notar que a sua procura dos bens da matéria nem sempre é coroada de êxito.

Também, assim, pode dar conta da sua tacanhez humana que a inibe de atingir a felicidade meramente material que busca. Por causa da técnica corre-se o risco de os homens ficarem estatelados no meio do caminho pedregoso quando lhes faltar a pilha e o desuso do pensar irá conduzi-los à ruína.
Por outro lado, cada vez mais, enxameiam todos os sectores da actividade humana social os ditos “espertos” que, escamoteando as manigâncias mais enigmáticas, conseguem gozar um tal bem-estar que, até aos outros, causam desespero.

Porém, o mais exasperante é constatar a corrida desenfreada desses mesmos, em direcção aos cargos públicos de regência económica e didáctica com choruda remuneração. A absolvição dos seus delitos, públicos ou supostos, não vem do Céu, mas consegue-se quando os seus autores sprintam, rumo à prescrição judicial legal dos factos e processos ou esperam a impressão digital de quem se faz cego em alguns episódios e não pretende reconhecer os crimes relatados e constatados.

Atendendo a esta panorâmica encoberta nas grandes salas, mas sofrida em quaisquer aldeias, lastimam-se tais procedimentos, mesmo que “castigados” por aquilo que se chama o voto popular.

Apesar de todos os imbróglios sociais, causar-nos-á espécie o facto de muitos prevaricadores, conhecidos e repudiados pelo povo, continuarem a apregoar-se na praça comum, acreditando que irão sempre encimar os andores e carregar os ombros dos mais débeis.

Vivo de consciência serena, pois jamais peguei em algo que não me pertencesse e não pretendo alcandorar-me nalgum lugar politicamente desajeitado, mas, pecador me confesso por calar, tantas vezes, a minha visão crítica e indignação que, decerto igualam o mal-estar de uma sociedade espezinhada que, por seu turno, procura alimentar-se com o pão honesto, mas que nem esse lho permitem obter.