Costa sempre deixou de lado o PSD – quando o PSD de Rio era, como o próprio dizia, um partido de centro-esquerda.
Foi com Costa que Ventura engordou. O PSD de Passos manteve-o controlado dentro do partido, com rédea curta. Rui Rio afastou-o – como a tantos outros – e deixou vazio o espectro político da direita ao cuidado do Chicão…
Ventura aproveitou esse vazio, beneficiando da viragem à esquerda da política nacional em 2015.
Costa, o sobrevivente, vende o PS à extrema-esquerda e à esquerda conservadora, para quem era útil que a direita radical tivesse mais força, vincando trincheiras. Costa passou essa legislatura a empurrar o PSD para o Chega. Foi quando começou a ser normal apelidar de fascista tudo o que não fosse do PS para a esquerda.
Os sinais da ascensão da direita radical estavam lá e Costa – que tem faro político – sabia-o. Em vez de se colocar do lado da história do PS, daquele PS que lutou no PREC pela democracia, preferiu usar Ventura para enfraquecer o PSD e fazer crescer o seu PS: ganha com maioria absoluta em 2022, abandona os antigos camaradas de geringonça, deixa um PSD em mínimos e o Chega como terceira força no parlamento.
Pedro Adão e Silva reconheceu no Público que “O PS devia ter libertado o PSD do Chega”. E tem razão. Até 2019, a insignificante voz de André Ventura foi sendo amplificada pela visibilidade que a esquerda lhe quis dar. A partir de 2022, já com maioria, o PS podia trabalhar para isolar Ventura, mas continuou a colar o PSD ao Chega. Agora é tarde. Ventura é líder da oposição. Montenegro, mantendo-o fora da governação e de acordos parlamentares, já não o pode ignorar.
Agora, os mesmos que gritavam que jamais o PS se devia entender com o PSD, aparecem a exigir que Montenegro faça entendimentos ao centro. Durante a geringonça, Costa chegou a dizer que se o PS precisasse do PSD, era melhor acabar com o seu governo.
Daí a importância do substituto de Pedro Nuno Santos. É pena que as alas costistas e pedronunistas do PS se acobardem e faltem ao debate interno – fragilizam José Luís Carneiro. Mas percebo que não seja um lugar atractivo nesta altura. Admiro a coragem de Carneiro e agradeço-lhe a disponibilidade.
O PS vai passar um período de reconstrução, enquanto terá de optar se permite que o PSD governe com algumas reformas. Caso contrário, o PSD pode legitimamente ter outra escolha.
Carneiro parece ter a humildade, sentido democrático e inteligência para cumprir esse papel interno de reconstrução e externo de contenção da direita radical.
Por seu lado, Montenegro deve resistir à tentação de ocupar todo o lugar do PS. Na política não deve haver lugar a ressentimentos. É neste equilíbrio entre um PS fragilizado em reconstrução e um PSD que não pode governar sozinho que reside o futuro da democracia em Portugal. Que Luís Montenegro não tenha ilusões: foi o Chega que ultrapassou o PS. E se a aposta do PSD for na destruição do PS – como aconteceu em França ou Itália – então será ele a próxima vítima da direita radical.