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Desporto // Futebol  

Nuno Pedro, treinador do Anadia, em entrevista

No balanço da época e da participação do Anadia Futebol Clube no Campeonato de Portugal, o treinador Nuno Pedro não esconde a sua frustração pelo facto de o clube ter feito 71 pontos na Série C e de não ter chegado para atingir o playoff de acesso à Segunda Liga, ao contrário do que aconteceu noutras séries. A qualificação não foi alcançada, mas Nuno Pedro sente-se orgulhoso do trabalho realizado por todos. E não fecha a porta à continuidade no Anadia FC na próxima época.
 
Foi por uma unha negra que o Anadia não conseguiu o play-off. Qual o sentimento?
Sentimento de que tudo fizemos para estarmos perto de o conseguir, contudo em algum momento da época falhámos mais que o adversário, embora no confronto direto com qualquer um deles, fomos melhores. Resumir 34 jornadas de um campeonato tão competitivo como este em apenas um ponto de diferença é frustrante. Traduz-se, por vezes, num simples golo marcado a menos ou um golo sofrido a mais em qualquer momento do campeonato que nos retirou a possibilidade de algo extraordinário e que pela diferença de orçamentos e estruturas profissionais, era merecido que fossemos nós premiados.
Como em qualquer campeonato e quando as coisas estão apertadas em termos de pontos, é imperioso que nas últimas jornadas ninguém vacile. Acha que o empate em casa com o Torreense foi a morte do artista?
Concordo que esse empate foi o que teve mais impacto dado ter sido o último jogo em que perdemos pontos, estando a faltar 5 jogos para o fim do campeonato e pelo facto de termos estado a ganhar até perto do final. Contudo, não podemos resumir 34 jornadas, mais de 10 meses de campeonato a um só jogo, como sendo o que nos retirou a possibilidade de chegar ao playoff. O campeonato é a performance de 34 jogos resumida em pontos e onde fizemos 71 pontos, o que numa situação normal, seria mais que suficiente para termos ficado qualificados.
Alcançar 71 pontos, bater o recorde de pontos, invencibilidade em casa, equipa com menos derrotas, vantagem sobre os outros candidatos, o que falhou para atingir o objetivo?
Não falhámos o objetivo que passava essencialmente por fazer um campeonato tranquilo, atingir o máximo de pontos possível com vista à rápida manutenção e devolver uma mentalidade e rotina de vitórias ao clube, o que foi o que veio a acontecer, sem esquecer a caminhada na Taça de Portugal (4.ª eliminatória), que deu ainda mais brilho à nossa temporada. O facto de termos formado um plantel praticamente novo, levou a uma fase de adaptação e rotinas que demoraram a criar, bem como algumas apostas, que podem ter tirado a equipa algum maior acerto, sobretudo na primeira volta do campeonato. Porém, no início da temporada para qualquer pessoa conhecedora deste campeonato, 71 pontos seriam mais que suficientes para ir ao playoff, ainda mais se olharmos para as outras séries, em que nenhum dos segundos classificados atingiu essa pontuação e em que numa delas nem o 1.º classificado.
Em casa, o Anadia empatou 6 vezes contra adversários do meio da tabela para baixo. A equipa também sentiu dificuldades, por vezes incapaz de assumir o jogo e jogar em ataque continuado. Sente que também esteve aqui algumas diferenças para os rivais diretos?
Sim, é um facto, para além das estruturas profissionais dos adversários e das grandes diferenças orçamentais, essa foi a maior diferença. Contudo, aí entramos num plano mais técnico de características individuais e coletivas que a nossa equipa possuía. Em 34 jogos, averbamos apenas 3 derrotas, nenhuma delas em casa, e em poucos jogos estivemos em desvantagem. Nos jogos em que perdemos pontos, 90 por cento das vezes estivemos em vantagem no marcador e consentimos o empate ou até a derrota por esse fator, de termos um menor controlo do jogo em posse, fruto das características que possuíamos e assim se traduzia numa determinada dinâmica assente num maior à vontade da nossa equipa em jogar de determinada maneira. Tentámos ir moldando no trabalho diário. Também tivemos outros atributos em que fomos claramente superiores aos adversários e que nos permitiram estar na discussão com eles até ao último minuto do campeonato, deixando também candidatos e equipas profissionais numa diferença pontual para connosco de menos 9, 17 e 30 pontos.
Há um dado que ninguém tira ao Anadia. Foi capaz de se bater de igual para igual com clubes com estruturas profissionais e orçamentos do triplo do Anadia. Que comentário?
É um facto, mas para estarmos pertos dos melhores tivemos que ter uma capacidade de superação excecional. É óbvio que um jogador profissional cuja vida é apenas futebol, tem uma disponibilidade diferente, a todos os níveis de um jogador cuja vida prioritária é com base no trabalho e nos estudos e que ao final do dia vai treinar e competir ao fim de semana. Isso não acontece só com jogadores, mas com técnicos, diretores, estrutura, etc. Para fazermos 71 pontos neste campeonato tivemos de fazer esforços redobrados e ir buscar uma capacidade de trabalho e mentalidade, acima dos outros, para superarmos essas diferenças.
Quando é que o grupo assumiu internamente que o objetivo passava por lutar pelos dois primeiros lugares?
Não houve uma altura específica da época em que isso tenha acontecido. Foi um processo natural que veio a ganhar força dentro de todo o grupo de trabalho à medida que as jornadas iam passando e nós nos mantínhamos com regularidade a conquistar pontos, algo que nos permitia assim estarmos sempre perto dos lugares cimeiros e algumas semanas até sermos líderes do campeonato.
Com a campanha realizada, disse no final do jogo com o Oleiros, que o caminho do Anadia era crescer e fazer melhor na próxima época. Será com o Nuno Pedro como treinador?
Estarei sempre disposto a ajudar o Anadia FC, foi a isso que me propus quando cheguei ao clube. Prova disso o recorde pontual obtido esta temporada na competição e a campanha na Taça Portugal (4.ª eliminatória). Tenho uma dívida de gratidão muito grande para com o presidente Vasco Oliveira e para com as pessoas que acreditaram no meu trabalho para que fosse possível chegar até aqui. Acredito que o clube pode estar a entrar no caminho que todos queremos. Posto isto, em altura oportuna os responsáveis do Anadia FC irão comunicar.