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Anadia // Bairrada // COVID-19 // Sociedade  

“O agravar da situação no país reflete-se num ritmo diário frenético”

A situação só se vai inverter quando todos tivermos a consciência que a Covid está para ficar e que reduzir estes números verdadeiramente assustadores apenas depende de uma atitude conjunta e responsável de todos.
Há uma necessidade urgente de uma consciencialização coletiva.”

Tiago Patrão tem 37 anos e é natural da Poutena, concelho de Anadia. Técnico de Radiologia no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) no setor da Urgência há 16 anos, revela a importância dos Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica (MCDT) no combate à pandemia mas também como um passo importante no diagnóstico ou tratamento de doentes.

Como encara a sua profissão nos dias de hoje? As condições de trabalho são mais complexas devido à pandemia?
Considero que estamos integrados numa equipa multidisciplinar onde os técnicos de radiologia são um elo importante na cadeia hospitalar.
Aquilo que enquanto técnico de radiologia consigo dar é a imagem, e essa em medicina é uma mais valia muito importante.
Conseguir visualizar o interior do corpo foi um passo muito importante em medicina e continua a sê-lo em qualquer circunstância.
Esta é de facto uma situação difícil e, como tal, temos de nos adaptar ao contexto e àquilo que a organização nos pede, sendo este um momento mais exigente com condições difíceis.

Que avaliação faz da situação (contexto de pandemia) atual? Alguma vez pensou assistir a algo do género?
A avaliação pandémica atual é muito crítica e obviamente isso traz complicações a toda a dinâmica de funcionamento normal dos hospitais e, neste caso concreto, ao CHUC (Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra).
Todos os dias são feitas alterações internas, para melhorar a resposta.

Qual o seu maior receio?
Nenhum em concreto, sou um otimista por natureza, herdei da minha mãe. Tenho um sentimento de alguma revolta quando penso que a minha filha, a Maria, de 4 anos, não conheça, ou vá demorar a conhecer a “liberdade” como nós a conhecemos. Que cada vez que ponho a hipótese de visitar os avós para brincar com eles, tenho de pensar se será a atitude correta e, de facto, neste momento não é.
Esta acaba por ser uma situação necessária, mas ao mesmo tempo perversa. Privar os avós de ver uma neta e vice-versa seria algo impensável, pelo menos para mim, em janeiro de 2020.
Há imensas situações destas, de privação de estar com as pessoas de quem gostamos, fruto da pandemia e isso é gerador de um sentimento de revolta.

Em que medida os meios complementares de diagnóstico representam uma grande arma neste combate? São devidamente aproveitados ou deveriam existir, por exemplo, nos centros de saúde e noutras unidades de retaguarda?
Sem dúvida que os MCDT são uma arma importante no combate à pandemia.
Sendo esta uma patologia que afeta muito o foro respiratório, e sendo o raio-x do tórax e a TAC pulmonar dois MCDT de excelência para o estudo pulmonar, estamos na tão badalada linha da frente. Os doentes confirmados ou apenas suspeitos de Covid-19 realizam por norma vários exames deste tipo para diagnosticar a sua situação clínica e durante o seu período de internamento para follow up.
Não sou um defensor acérrimo da linha da frente ou da retaguarda no combate à pandemia. Ambas são necessárias e completam-se. Se um determinado hospital está neste momento mais vocacionado para o tratamento de Covid-19, os Centros de Saúde e unidades hospitalares com menor diferenciação devem dar um forte contributo em todas as outras patologias, bem como no acompanhamento de doentes Covid não críticos. Por isso não há uma linha da frente e uma retaguarda.
Dou nota de supostas instituições de retaguarda como os lares, centros de dia que fazem um trabalho extraordinário, atendendo a que o fazem com pouquíssimos recursos, sejam eles humanos ou técnicos.

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