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Eduardo Jaques

Colaborador do JB em Vagos

Jornalismo: informação
e proximidade

Avisado, por meia dúzia de telefonemas anónimos, daqueles que, pelo seu conteúdo, não cabem nestas linhas, um modesto colaborador de um mensário de Vagos, motorista por profissão, viria a pagar caro a ousadia de denunciar as verdades que outros não querem ouvir. Pela calada da noite, como convinha aos aprendizes da desgraça, alguém silenciou a parte elétrica do seu camião, estacionado algures, junto à sede da Junta de Freguesia. Os prejuízos foram elevados, e a queixa contra “desconhecidos”, apresentada pela empresa, acabaria por marcar passo, no posto da GNR local, à espera de alguma pista credível. Sem pista esteve, algumas semanas, o referido “jornalista”. Humilhado e ferido na sua dignidade pessoal, acabaria por esquecer este incidente de percurso. Mas iria continuar a escrever, naquele seu jeito tão peculiar, as mesmas histórias que outros não queriam ler.

Fiz publicar esta história, em 1995, quando Teresa Gouveia, então Ministra do Ambiente e Recursos Naturais, visitou, a convite do presidente de câmara, Carlos Bento, a praia da Vagueira onde, preocupada com a subida da água do mar, e consequente diminuição de inertes nas praias, deixou “sérias reservas” quanto à eficácia dos esporões. “A construção incorreta tem provocado a descaracterização da paisagem, e a destruição natural dos sistemas em presença”, especificou a governante, que não estaria à espera da manif, em “protesto” contra o aterro do Cardal. Empunhando bandeiras negras e cartazes, gritando “já ninguém vai querer o nosso leite” ou “a lixeira é foco de doenças”, os mais de duzentos manifestantes, de Vagos, Oliveira do Bairro e Estarreja, ainda chegaram a convidar a ministra a deslocar-se ao Cardal, mas esta recusou.

Estamos a falar de um período, em que a alegada aceleração e precaridade temporal do Poder, se mostrava claramente “inimiga da boa política”. Porventura a mesma que, hoje ainda, continua a insistir em soluções que, embora aliviando o presente acabam invariavelmente por sobrecarregar o futuro. Afinal, convenhamos que a história vai-se fazendo, para sermos e fazermos diferente do passado.

Numa época em que os arautos da Democracia continuam, quiçá, a dar-se mal com o Poder (seja ele político, ou outro), o próprio jornalismo, como exposição da realidade, requer sempre a capacidade de “ir aonde mais ninguém vai, mover-se com desejo de ver” – por curiosidade, abertura ou simplesmente paixão. Quem o disse foi o Papa Francisco, na mensagem do 55.º Dia Mundial das Comunicações Sociais, ao agradecer à coragem e determinação de tantos profissionais que trabalham, gastando a “sola dos sapatos”, para que a informação nunca se perca. O que seria um “empobrecimento para a nossa humanidade”, reconheceu.