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Português suave – “Cão e careca”


Voltemos à escola. Se a morte de uma criança (Mirandela), na sequência da prática de violência física e psicológica, é sempre de chorar, a morte de um prof (Sintra) que, não aguentando mais a barra, se lançou ao rio Tejo, é caso para lamentar, mas sobretudo, ocasião para indispensável reflexão dos vários intervenientes na educação: família, associações de pais, conselhos directivos, professores, ministra, governo, sociedade.

Algo vai mal no reino do ensino, quando os profs andam desmotivados e aumenta o número de baixas médicas, por stress, ou desistem da profissão, por reforma antecipada (quase 10 mil em dois anos). Hoje, os docentes são sempre os culpados de tudo o que de mal corre nas escolas, os cepos das marradas, enquanto os pais se demitem da educação. Alijam essa responsabilidade, delegam-na nas escolas. As mudanças sociais, com reflexos negativos, e o governo fazem o resto.

O laxista Estatuto do Aluno, que só reclama direitos e esquece deveres, é um convite ao facilitismo e malcriadice. Insultam-se os docentes, fazem deles gato-sapato. A disciplina é letra morta. A autoridade é tábua rasa. Resultado? O que se vê.

Foram registadas 206 queixas de agressão a docentes em 2007/2008. E quantos casos encobertos? Nesta ténue fronteira se travam os conflitos nas escolas. Depois, os CDs parecem alhear-se. No caso do prof de música que os alunos insultavam de “careca” e de “cão” e fazendo-lhe mil patifarias, não é muito estranho que o CD não tenha dado resposta a sete participações? Agora, Isabel Alçada já admite a suspensão imediata dos alunos violentos. Já é um passo, mas falta, sem dúvida, o regresso da autoridade às escolas que deveriam ser uma festa e são hoje um problema muito sério, pesadelo. É território de conflito. Sem fim à vista, porque não há coragem de atalhar as causas e pôr o dedo na ferida.

Armor Pires Mota