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Jorge de Almeida Castro

Administrador do Colégio Instituto Duarte de Lemos

Profissão: sindicalista

Fui sindicalizado e dirigente sindical num sindicato de professores mais de 20 anos. Fui-o por convicção e porque acredito que o movimento sindical é importante para os equilíbrios sociais. Fui-o porque acredito que alguns sindicatos têm valor e mérito naquilo que defendem.

Exerci os muitos anos de dirigente sindical de modo abnegado, em paralelo com o exercício da minha profissão, sem dela ser dispensado para quaisquer funções sindicais. O sindicato foi para mim uma possibilidade de, em partilha, dar um pouco do meu tempo e do meu conhecimento em prol de outros profissionais e da educação em geral.

Portanto, nunca recebi qualquer remuneração do sindicato onde militei, nem tão-pouco fui pago pelo meu empregador para exercer funções de dirigente sindical.

Pedi a minha demissão de sindicalizado e de dirigente há quatro anos porque passei a não acreditar no rumo obstinado e sem sentido do movimento sindical em que sempre militei.

Neste meu histórico pessoal, assento uma realidade que não consigo perceber nos dias que correm: a existência de dezenas e dezenas de professores e de outros profissionais da educação que estão destacados em sindicatos, a tempo inteiro, sendo pagos pelo seu empregador-estado para isso.

Todos sabemos de tantos e tantos casos de professores e de outros profissionais da educação que pouco tempo exerceram a profissão para que foram qualificados. Desde há décadas que muitos deles apenas se ocupam das lides sindicais, mantendo os mesmos discursos e as mesmas ações de sempre. Aliás, por vezes custa-me perceber como é que alguns dirigentes denunciam, defendem ou atacam situações sem terem qualquer conhecimento de terreno.

Ora, num tempo em que faltam professores e outros profissionais de educação, não consigo aceitar que o estado mantenha uma prerrogativa sem sentido: a possibilidade de tantos e tantos professores e outros profissionais da educação não trabalharem na sua profissão, nas escolas, exercendo antes funções dirigentes em sindicatos, sendo remunerados pelo ministério da educação.

Para além daqueles profissionais que estão dispensados a tempo inteiro, ainda existem muitos outros que estão dispensados a tempo parcial, constituindo-se como um problema efetivo para o normal funcionamento das escolas.

Para além do custo que representa a falta de profissionais para trabalhar nas escolas, ainda temos o custo financeiro de milhões de euros anuais, uma vez que estes dirigentes sindicais ganham todos os meses o seu salário como se estivessem a exercer a sua profissão nas escolas. E se considerarmos que estes dirigentes, na sua maioria, estão posicionados em escalões avançados da carreira, então estamos a falar de um custo absolutamente absurdo para o estado e para os contribuintes sérios.

Os sindicalistas dirigentes deveriam ser isso mesmo: sindicalistas de profissão, pagos exclusivamente pelos sindicatos.

Falei só dos professores e dos seus sindicatos, porque é a realidade que conheço melhor. Porém, todos sabemos que esta realidade de profissionais destacados em sindicatos está presente em muitas outras profissões.