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Aveiro // Região  

Arte dos Barcos Moliceiros inscrita em lista de salvaguarda urgente da UNESCO

A arte da carpintaria naval da região de Aveiro, traduzida nos barcos moliceiros, foi hoje inscrita na lista de património imaterial em necessidade de salvaguarda urgente da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.

O presidente da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA), Jorge Almeida, saudou, hoje, a inscrição do barco Moliceiro na UNESCO, afirmando à Lusa que se trata de “um momento histórico” para a região e para Portugal.

“A inscrição do barco Moliceiro na UNESCO é um momento histórico para a região de Aveiro e para Portugal. Representa o reconhecimento internacional de uma prática cultural profundamente enraizada na nossa paisagem e no nosso quotidiano”, disse Jorge Almeida, citado numa nota publicada na página da CIRA na rede social Facebook.

A arte da carpintaria naval da região de Aveiro, traduzida nos barcos moliceiros, foi hoje inscrita na lista de património imaterial em necessidade de salvaguarda urgente da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.

No seu discurso após a decisão, anunciada hoje, em Nova Deli, na Índia, durante a 20.ª Sessão do Comité Intergovernamental, o presidente da CIRA referiu que este resultado “reforça o compromisso de toda a região em garantir que este saber-fazer continua vivo e relevante para as gerações futuras”.

Reforçando as primeiras palavras de reação oficial, foi exibido o documentário “Barco Moliceiro – Há quem diga que já nasces connosco” perante as dezenas de delegações dos países representados, com imagens da relação do homem com a natureza que inspirou a criação de uma embarcação única, cuja arte de carpintaria naval foi agora universalmente reconhecida.

“Esta inscrição representa esse reconhecimento internacional do valor cultural e identitário do Barco Moliceiro e do saber-fazer associado à sua construção tradicional. É também o primeiro Património Cultural Imaterial da Humanidade na Região Centro”, adianta a mesma nota.

O processo foi promovido pela CIRA e desenvolvido em colaboração estreita com mestres construtores, pintores, municípios da região, entidades culturais, educativas e operadores turísticos ligados à ria, contando com o apoio técnico da empresa IPDT – Instituto Português de Desenvolvimento do Turismo.

A preservação e valorização são as palavras-chave de um Plano de Salvaguarda que foi já aprovado e que irá futuramente operacionalizar face a esta nova e maior responsabilidade individual e coletiva, pública e privada.

Um dos aspetos singulares dos barcos moliceiros são as pinturas da popa e da ré: “A proa é a parte monumental do moliceiro, em que figuras, desenhos e legendas são exclusivos, sem igual em qualquer tipo de navegação conhecido”, escreveu Jaime Vilar, em livro dedicado àquela embarcação.

Nesse trabalho classifica as legendas da proa em “satíricas, humorísticas e eróticas”, “religiosas”, “românticas, brejeiras e pícaras”, “profissionais, morais e históricas”.

O mesmo autor, baseando-se em dados colhidos junto dos artífices, descreve que um moliceiro mede, em média, 15 metros de comprimento (…), desloca cerca de cinco toneladas e tem o fundo plano e de pouco calado, pormenor que lhe permite navegar por onde barcos de quilha não passam”.

Na década de 70 do século XX estavam registados três mil barcos moliceiros a operar na ria de Aveiro. Atualmente, subsistem apenas 50 embarcações, metade das quais afetas à exploração turística nos canais urbanos da ria.

Presidente da Câmara Municipal de Aveiro fala em “momento histórico para a região”

Também o presidente da Câmara Municipal de Aveiro já se congratulou com a decisão da UNESCO de inscrever o Barco Moliceiro na Lista de Património Cultural Imaterial em Necessidade de Salvaguarda Urgente.

Luís Souto Miranda, sublinha que “a inscrição do Barco Moliceiro na Lista de Património Imaterial em Necessidade de Salvaguarda Urgente da UNESCO é um momento histórico para a Região de Aveiro e para Portugal. Hoje celebramos Aveiro, celebramos todos os nossos Mestres e celebramos um legado que queremos proteger para as novas gerações. O reconhecimento da UNESCO reforça aquilo que sempre defendemos: o moliceiro é uma expressão singular da identidade da Ria de Aveiro, fruto do talento e dedicação de gerações de construtores e outros artistas que mantêm viva a arte da carpintaria naval da Ria”. Esta distinção adquire anda maior importância quando atualmente a tradição e a identidade local do Barco Moliceiro são preservadas por apenas cinco Mestres construtores.

Autarca da Murtosa frisa que “decisão gera também grandes responsabilidades”

À Lusa, também o presidente da Câmara da Murtosa disse, hoje, esperar que a inclusão do barco Moliceiro na lista de património imaterial em necessidade de salvaguarda urgente da UNESCO traga maior visibilidade para este património e mais visitantes para a região.

“Isto gera-nos um profundíssimo sentimento de orgulho porque é um reconhecimento internacional, naturalmente. Sabemos a importância que tem a designação por parte da UNESCO dos patrimónios imateriais, porque gera, naturalmente, uma visibilidade acrescida sobre um património que é extraordinário, que é o nosso barco Moliceiro e a carpintaria naval da região de Aveiro”, disse à Lusa Januário Cunha.

O autarca encontra-se em Nova Deli, na Índia, onde o Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da UNESCO decidiu hoje inscrever a arte da carpintaria naval da região de Aveiro, traduzida nos barcos moliceiros, na lista de património imaterial em necessidade de salvaguarda urgente daquela organização.

Januário Cunha, que está acompanhado do presidente da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA), Jorge Almeida, e do presidente da Assembleia Municipal de Albergaria-a-Velha, António Loureiro, referiu que esta decisão gera também grandes responsabilidades, “sobretudo na adoção de medidas que permitam perpetuar esta arte extraordinária e esta embarcação extraordinária que é o barco de Moliceiro”.

O autarca lembrou que a região tem um plano de salvaguarda que passa, em primeiro lugar, por “conseguir trazer para a arte gente nova” e “gerar apetência para a construção naval tradicional”, porque sem os mestres construtores não há barco moliceiro.

Januário Cunha realçou, por outro lado, os efeitos que esta decisão poderá gerar do ponto de vista turístico e de atratividade territorial, uma vez que o moliceiro é uma embarcação única da região de Aveiro, afirmando estar “muito expectante relativamente a isso”.

“Agora que estamos nas bocas do mundo, aquilo que era um património conhecido na região na região centro e a nível nacional ganhará aqui uma escala muito maior, que nos obriga também a termos esta perspetiva de podermos não só ter estas medidas de salvaguarda, mas também de cada vez mais de divulgação acima de tudo do património, por via daquilo que é o expectável incremento também de visitantes para a região por via desta nomeação”, afirmou.

Atualmente, segundo o presidente da Câmara da Murtosa, existem quatro mestres construtores de barcos moliceiros no concelho, dois a trabalhar em permanência e outros dois que se iniciaram na atividade muito recentemente.

“Em 2009, quando foi criado o Estaleiro Museu do Monte Branco, existia um único mestre construtor a trabalhar na Murtosa, que era o mestre Zé Rito. Nós hoje já temos, além do mestre Zé Rito, o mestre Marco Silva, e temos pelo menos mais dois mestres que se estão a formar, digamos assim, e, portanto, dá-nos aqui uma ideia de expectativa e de esperança na perpetuação desta arte”, disse Januário Cunha.