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Orlando Fernandes

Assinante JB

A emergência demográfica

Há dias, o INE divulgou os números da população estrangeira residente em Portugal, encerrando o dossiê do Censos 2021. E o número avançado – mais de 540 mil pessoas – constitui o único aspeto positivo que o país pode retirar da sua demografia na última década. Não apenas pelo que representa em termos de atratividade e de equilíbrio do saldo migratório, mas porque receber pessoas de fora é aparentemente, o único expediente capaz de evitar o desastre populacional anunciado.

Perder 2,1% da população em 10 anos, mesmo tendo sido apenas a segunda redução conhecida desde que há registos, não parece alarmante. O problema está nos restantes critérios de análise, que nos mostra a verdadeira emergência demográfica que enfrentamos. Veja-se, por exemplo, a taxa de envelhecimento galopante, que neste intervalo censitário passou na Região Norte, dos 113 idosos (+65 anos) por cada 100 jovens (0-14 anos), para 184 por 100.

Outro aspeto preocupante está no agravamento das assimetrias regionais, com uma inclinação ainda maior para o litoral e cerca de 50% das pessoas a residirem em apenas 31 municípios. É sintomático desta discrepância o facto da Área Metropolitana de Lisboa e do Algarve terem sido as únicas regiões com ganhos populacionais, enquanto todas as restantes perderam em larga escala. Temos um país com menos gente, muito mais envelhecido e estruturalmente desequilibrado.

As projeções destes indicadores no tempo são ainda mais assustadoras: a FEMS estima que, até 2060, a população sénior dobre na maior parte das regiões; e que tenhamos pouco mais de três de milhões de pessoas a trabalhar em 2050. A esta realidade, soma-se uma emigração cada vez mais qualificada, retirando do país o talento que este precisa para progredir.

Não se vê questão mais estrutural do que esta para o futuro do País. O resultado deste recenseamento ameaça todo o modelo social construído nas últimas décadas, com impactos profundos na economia, no emprego, na saúde e na educação.

Apesar de continuarmos distraídos com o acessório, a prazo não restará outra opção que não seja enfrentar seriamente este problema e definir soluções. Quanto mais cedo o fizermos, menos pesada será a fatura para as próximas gerações.