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Manuel Armando

Padre

A ligeireza das promessas

Na minha missão experimentada, encontro-me, frequentes vezes, chamado ao exercício de conselheiro. E, de facto, pela natureza do meu múnus pastoral, tenho bem a noção de que o sou.

Homens e mulheres, mais ou menos adultos, acercam-se de mim no sentido e esperança de eu poder ajudar a encontrar alguns rumos que sejam adequados em determinadas necessidades ou imperativos no foco das suas consciências.

A vida vai apresentando a cada um de nós, não as soluções acabadas, mas, de certo modo, novas e abertas formas ou atitudes que conduzem a uma maior serenidade interior.

Não há escaparates de armazenamento, onde se achem decisões comuns a todos os géneros de situações difíceis, todavia, havendo séria colaboração na tranquilidade e, sobretudo, na verdade, quem experimenta as dificuldades, só por si conhecidas, quando as expõe com simplicidade e receptividade, vai descobrindo naturalmente o potencial de energias e capacidades de acerto que possui, escondidas dentro da sua personalidade e que, sendo encontradas, irão aliviar, em parte, os seus intrincados achaques pessoais.

Um dos modos ideais para todos – nós também, claro – é procurar desvendar e aproveitar essas enormes virtualidades que albergamos para, numa utilização recta e personalizada, enveredarmos por caminhos direitos, quando, antes, os tínhamos como impensáveis.

Nós não usamos uma boa percentagem das nossas forças anímicas e, por alguma razão negativa, desperdiçamo-las. Daí a incongruência entre o que podemos e aquilo que fazemos.

Um dos quadros obscuros muito vulgares nas pessoas inquietas é o caso concreto das apelidadas promessas.

Inquietante, porquanto alguém engendra as tais promessas sem medir o peso nem o resultado final delas.

Frequentemente ultrapassam a força e o saber do indivíduo que as idealiza.

Para que uma promessa caiba numa oportunidade de fazer-se, há necessidade de ponderar que ela não passe além do razoável no agir de cada um. Antes, examine-se se é exequível, se não traz transtornos de espécie nenhuma ao votante, ou se não entra no ridículo de quanto é humano e viável.

Não parece curial prometer-se o impossível, o inverosímil ou o improvável.

Uma promessa impõe o cumprimento sem esperar, nalgumas exigências taxativas, determinado resultado ansiado.

Não se enverede pelo intuito de negócio cego, mas entenda-se o compromisso sério de oferecer algo, sem nada preconceber em troca. O que parecer merecido virá. Porém, não existindo concordância entre aquilo que se apresenta e o que se cumpre, o efeito da acção torna-se nulo.

Dizem que os santos esperam, mas não perdoam, isto é, se alguém promete, isso não lhe permite embrenhar-se na ligeireza dos seus ditos e discursos, sob pena de levar a desacreditar toda a sua intenção que é boa quando afirmada, mas péssima e vazia se for para ficar enclausurada numa gaveta que jamais venha a abrir-se.

Quem paga adiantado é mal servido. Ninguém dará, portanto, o seu aval de consentimento se, em primeiro lugar, não prevê alguma garantia de atingir o bem desejado.

Experimentamos uma época em que tudo serve e se apresenta como acesso infalível a um paraíso de felicidade e bem-estar. Mas o leite, aquecendo demais, transborda a panela e ninguém o chega a beber porque, num ápice, evapora, longe de ter alguma utilidade para alguém.

Vejo os manifestos eleitorais de candidatos a cargos políticos e autárquicos, anunciando, em grandes parangonas, a vontade e exclusividade de diversos feitos em favor dos desprotegidos ou carentes, a saber: – abrem-se estradas, erigem-se prédios e moradias sociais, multiplicam-se os empregos e a vida familiar irá de vento em popa, etc.,etc..

Contudo, pelo costume já sobejamente constatado, passam-se os tempos e os buracos alargam-se, a fome grassa, a desordem de todo o tipo é uma constante, a autoridade paterna desiste ou entra em colapso, os agentes da ordem perdem valimento e o caos instala-se em todos os cantos sem que se vislumbre um final minimamente satisfatório.

Promessas ocas, baseadas em palavras balofas nos discursos que, parecendo empolgados, não passam de corriqueiros e enfadonhos.

A promessa, aí, inventa mitos e utopias que, no fim de contas, a nada conduzem, mas, em contrapartida, trazem consigo desânimo, revolta, desencanto e descrença ou desinteresse num futuro próximo.

Ninguém faça promessas, sabendo, de antemão, que não lhe assiste hipótese para o devido cumprimento.

Prometam, sim, trabalhar com honestidade, não se autossatisfaçam a adorar o umbigo egoísta e esqueçam quaisquer possíveis alvíssaras que não merecem ou talvez, nunca mais, as consigam merecer.


Texto escrito ao abrigo do anterior acordo ortográfico, por vontade expressa do seu autor