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Manuel Armando

Padre

A morte encomenda-se?

Na verdade, anda a sociedade num frangalho. São as provações e provocações, maldades, conflitos, inseguranças, doenças e dores sem assistências devidas, desavenças de todos os jeitos e feitios, os distúrbios políticos, sociais e, até, religiosos, dúvidas sobre o porvir das populações, o medo da fome e das derrotas, bastantes e variadas discrepâncias entre pessoas e grupos e tantas outras vicissitudes negativas, neste mundo e neste tempo, que parecem levar-nos a um precipício psicológico emocional e quase desmotivado de lutar por situações mais positivas e com um sinal concreto.

Deparamos com um desnorteamento como que organizado por alguma entidade superior para destruir linearmente quaisquer dons e valores do Homem consciente e activo, cuja duração de vida não lhe compete medir nem saber.

No decorrer dos anos de cada um, admito que haja tempos e circunstâncias frustrantes, menos adequadas e desagradáveis para a vontade humana. Todavia, vão aparecendo sempre determinados incentivos que conduzem o homem, em si, a procurar vencer de um modo inteligente as contingências adversas com que se vai debatendo.

Aqui entrará ou falhará o conceito e prática da grande força da Fé, como algo que transporta a natureza humana até fora do seu eu para procurar encontrar um lenitivo que abrande e suavize qualquer mal-estar, trazendo a todos uma outra sempre renovada esperança de que os dias não sejam todos e sempre iguais.

Bem sabemos que a idade avança inexoravelmente para todos – ricos e pobres, homens e mulheres – por igual. Ninguém acrescentará um simples côvado à sua existência.

É intrínseco ao homem dar valor à sua vida pessoal e procurar todos os meios e métodos de a defender e conservar. Essa é a vontade inerente a qualquer ser inteligente e, para tal, são inúmeros os meios usados que vão ao encontro deste direito natural e inalienável à vida.

Acontece que muitas são as vezes em que o enfraquecimento intelectual, psicológico e sensitivo surge com intensidade, obrigando, assim, a que sejam precisos sítios e pessoas, além de medicação própria e adequada, para tentar debelar ou minorar tais estados, com assistência permanente e boa.

Se as comunidades, ou melhor, alguns mentores de governança e seus prosélitos não dão importância à vida nem querem compreender o sofrimento alheio, não pensem na sua vitória sobre essa vida, encomendando a morte. Ela virá, a seu tempo, ninguém duvida disso. Alguém orientará essa realidade insofismável.

Pedir ou legalizar a morte para evitar o avanço da idade ou algum modo de sofrimento, com a aberração da eutanásia, é contraditar o desejo e direito natural de todos quantos têm o uso da razão afinado, não sendo, portanto, da competência de ninguém julgar ser senhor e dono da vida alheia, seja de quem for.

Meus senhores, nos gabinetes ou assembleias, quereis ditar ou já ditastes leis contra a Natureza, para ofender a fé e o bom senso, ouçam-me então e não peçais para mim o fim da existência. Se eu estiver doente, buscai-me medicamentos; se estiver debilitado do corpo ou da mente, acompanhai-me.
Procurai para vós, que me pareceis velhos de espírito, o abreviamento dos vossos dias. Aos outros, de quem nada tereis a haver para além da defesa dos seus direitos e deveres, deixai-os em paz.

Texto escrito ao abrigo do anterior acordo ortográfico, por vontade expressa do autor