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Orlando Fernandes

Assinante JB

A nossa pobreza

Comecemos pelas boas notícias. O PIB per capita português (em paridades de poder de compra) subiu em 2022 face a 2021, de 75% da média europeia para 77,3%- Qual é então a má notícia? Isso não impediu que Portugal deslizasse um pouco mais no ranking de desenvolvimento europeu. Fomos ultrapassados pela Hungria. Estamos, paulatinamente, a caminho do último lugar. Encontramo-nos atualmente no 21.º lugar, ex-aequo com a Roménia.

Recordemos o percurso nos últimos anos. Em 2000, o PIB per capita português era 85,3% da média europeia. Portugal era então o 15.º mais “rico”. Mais de duas décadas volvidas, fomos ultrapassado pela República Checa, Estónia, Lituânia, Hungria, Malta Polónia e Eslovénia. Pior que nós só mesmo a Letónia, a Croácia, a Grécia, a Eslováquia e a Bulgária.

Mas nem é bem pior. Porque o caminho feito por alguns destes países arrisca-se a colocá-los à nossa frente num futuro muito próximo, Estamos, verdadeiramente, a jogar a liga dos últimos, mas em risco permanente de “despromoção”.

A primeira conclusão que podemos retirar destes dados é que não basta aproximarmo-nos nos da, média europeia, como sucedeu em 2022. Ou seja, não basta convergir. De facto, o que temos assistido é que os países no mesmo patamar de rendimento de Portugal crescem muito mais, enquanto nós vamos definhando e empobrecendo em termos relativos.

A segunda conclusão é que, no debate público, é fundamental sabermos com quem nos estamos, de facto, a comparar. Ao fazê-lo com países muito mais ricos do que nós, destacando a nossa taxa de crescimento face a países como a Alemanha, como faz António Costa frequentemente, estamos a comprometer a seriedade com que se devia olhar para este problema.

Quando o primeiro-ministro apelida de “inveja” os alertas de que estamos a ser ultrapassados por países que eram, há não muito tempo, mais pobres de que Portugal, consolidamos o caminho que ameaça colocar-nos em breve – ainda mais – na cauda da Europa.

A terceira conclusão é que nada está a ser feito para contrariar o caminho de empobrecimento seguido. E o Governo mostra-se incapaz de responder às perguntas que não se impõem. O que estão estes países a faze para crescerem mais do que Portugal? Que reformas estão a ser implementadas – ou pensadas sequer – para que Portugal não se torne o “lanterna vermelha” dos 27?
Infelizmente, continuamos em negação e – volta e meia – em loop a festejar um aparente milagre económico português, como a recente revisão em alta da previsão de crescimento para 1,8% da economia portuguesa para 2023, anunciada pelo Banco de Portugal. Esquecendo que, por este caminho, é apenas a liga dos últimos que estamos a disputar.