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Jorge Almeida

Presidente da Câmara Municipal de Águeda

A Ponte do Vouga e a sua reabilitação

Temos vindo a assistir a um conjunto de notícias que se repetem na imprensa e nas redes sociais, referentes à antiga Ponte do Vouga, querendo passar a ideia do desinteresse do Município na sua reabilitação.

Comecemos pelo início. A ponte transitou da antiga EP – Estradas de Portugal, para o Município em 1996, sem qualquer tipo de inspeção e, ao que tudo indica, já num estado lastimável. O primeiro alerta para o Município foi em 2010, por um cidadão residente nas proximidades da ponte; depois de uma análise por técnicos municipais, foi pedida de imediato uma inspeção à estrutura por uma empresa especializada, que entregou o seu relatório no final desse ano, onde era apontada a necessidade de uma intervenção em todos os componentes da ponte (tabuleiro, guardas, fundações, pilares, quebra-mares, encontros…), não colocando, no entanto, a possibilidade da sua derrocada.

Em maio de 2011, a GNR do posto de Arrancada do Vouga alerta para a existência de uma fissura no tabuleiro da ponte. Nessa altura, após observação cuidada e ancorados no relatório da inspeção, foi decidido pelo Município o encerramento imediato da ponte a todo o trânsito automóvel. Em novembro de 2011, aconteceu a derrocada de um dos pilares e parte do tabuleiro.

É claro e inquestionável que a recuperação desta infraestrutura aponta para valores muito significativos, de vários milhões de euros. Procuraram-se, desde então, linhas de financiamento (comunitárias ou outras) que permitam ao Município avançar com a obra, dada a dimensão e envergadura da intervenção necessária.

Sempre que surge um novo programa de financiamento, procuramos possíveis enquadramentos para candidatar a recuperação da ponte a esses apoios. Um desses exemplos foi a tentativa de candidatura no âmbito de uma linha de apoio relacionada com os Caminhos de Fátima, pois faria parte desse itinerário, tal como do Caminho de Santiago. Não obteve financiamento dado o seu alto valor.

A reabilitação desta ponte, do ponto de vista económico-social, é posta em causa pelas várias entidades a quem recorremos para candidatar apoios, porque temos uma ponte nova e funcional a 200 metros desta, que assegura o trânsito e mobilidade de pessoas. O argumento que repetidamente apontam é que, do ponto de vista da mobilidade e do serviço público que irá prestar, a outra é suficiente e não justifica um investimento tão grande.

A classificação da ponte como Monumento Nacional, que ateste o seu valor patrimonial nunca foi conseguida. Esta classificação é da responsabilidade da Direção Geral do Património Cultural (DGPC), entidade afeta ao Ministério da Cultura. Com essa classificação, seria sem dúvida elegível a fundos para a reabilitação do Património Cultural, a exemplo da intervenção levada a cabo pelo Município na Igreja da Trofa e Panteão dos Lemos, que é, como sabemos, Monumento Nacional.

O discurso de imputar ao Município a responsabilidade financeira plena para a recuperação da antiga Ponte do Vouga, só será possível a quem não tenha a perspetiva de ter essa responsabilidade. As verbas necessárias para esta obra implicam ter a noção bem clara de que, ao fazer essa opção, será sempre em detrimento de muitas outras obras e realizações e da sua perda irreparável.

Numa altura em que temos acesso a diversos fundos comunitários e nacionais (PRR, Portugal 2030 e muitos outros), os fundos disponíveis dos Municípios permitem-lhe alavancar um conjunto de investimentos. Ou seja, se utilizarmos o valor que gastaríamos na reabilitação da ponte, a expensas próprias, em outras obras financiadas, concretizamos cinco a seis vezes mais esse valor.

É preciso que, os que defendem a reabilitação da ponte, da mesma forma que tomam a dianteira para pedir uma intervenção nesta infraestrutura, digam quais dessas outras obras deixariam de fazer no concelho. Só assim teriam que escolher, como afinal o temos nós que fazer.

Persistiremos, no entanto e sempre que surjam novos canais de financiamento, na tentativa de enquadrar a Ponte do Vouga a candidaturas para a sua reabilitação e também na tentativa de demover a DGPC da sua renúncia em classificar a antiga Ponte do Vouga como Monumento Nacional.