Assinar

Jorge Pato

Adriano Moreira – um Senhor, um Mestre, um Exemplo

Há alguns dias, o país acordou com a notícia do falecimento do Prof. Adriano Moreira. O ex-ministro do Estado Novo e ex-Presidente do CDS tinha completado um século de vida, há pouco mais de um mês.

Não conheci pessoalmente o Prof. Adriano Moreira. O início da minha vida política foi posterior ao seu abandono da política de forma ativa. Em contrapartida conheci bem o seu filho Nuno, que foi meu colega numa Comissão Política Nacional do CDS, sob a presidência de Assunção Cristas. O Nuno, que Deus levou de forma súbita e prematura no final do ano passado, foi um seguidor exemplar do pai e foi um privilégio para mim conhecê-lo.

Num século de vida, este homem foi uma figura notável do seu tempo. Nasceu pobre numa aldeia de Trás-os-Montes, onde cresceu antes de ir estudar para Lisboa. Licenciado em Direito, foi preso durante a ditadura do Estado Novo, ainda no começo da sua vida profissional, quando defendeu um cidadão, num processo contra o Ministro da Defesa. Ironicamente, pouco tempo depois viria a ser nomeado por Salazar, Ministro do Ultramar. Durante o seu mandato revogou o estatuto dos indígenas e introduziu a escola colonial na universidade, numa das muitas demonstrações da sua vertente humanista. Devido à ousadia das suas reformas foi demitido, também por Salazar, já depois do começo da guerra colonial. Sendo um jurista brilhante seguiu a carreira académica, que o ocupou até ao resto da sua vida.

O Prof. Adriano Moreira era o presidente do CDS em 1987, à data do pior resultado eleitoral da história do Partido, até às eleições deste ano. Nessa noite eleitoral, quando lhe perguntaram qual seria o seu futuro, ele respondeu “vou plantar macieiras”.

Não sei, e penso que ninguém saberá, quantas macieiras terá plantado. Mas sabemos que plantou discípulos e semeou ideias para os guiar. Eu sou um desses seguidores. Um daqueles que continuarão a seguir o seu humanismo personalista de inspiração cristã, baseado na vida, na dignidade humana e na família. Dos que sonham com uma sociedade baseada no indivíduo, na iniciativa empresarial, na propriedade privada e na liberdade criativa, em oposição a um Estado limitador, opressor e socialista. Que acreditam na economia social de mercado como sistema económico mais propício ao progresso, à realização humana e à justiça social. Que defendem um país europeísta, mas sem abandonar a sua vocação atlântica, fruto da nossa posição geográfica e de cinco séculos de história.

Na hora do adeus resta-me dizer: Obrigado Sr. Professor. Por o exemplo que foi, pelo que nos ensinou e pelo serviço prestado ao país. O CDS ficou órfão. Portugal perdeu um dos seus melhores.