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João Sousa

Agricultor

Afirmar Abril!

Força, Força, Companheiro Vasco – Nós seremos a muralha de aço! Eram estas as palavras de ordem que muito se ouviam nas ruas de Lisboa, nos anos 74-75, em que presidia no Governo Provisório um general do povo, para o povo, fosse esse povo agricultor, operário fabril, empregado do comércio… vincado no humanismo e que a todos queria bem.

Este período revolucionário apanhou-me na capital onde eu, com 25 anos, casado aos 23, operário fabril, que da Revolução de Abril de 74 nada conhecia, eu e a maioria do nosso povo, mas depressa nos apercebemos para a qual ela foi feita – para a melhoria do País e do Povo. Como já disse, trabalhando como operário fabril, nunca tínhamos horário certo, sendo o ordenado sempre igual. Com a Revolução e a luta dos trabalhadores, conseguiu-se o ordenado mínimo, passando pouco a pouco a subir, conforme o tempo e os avanços alcançados pelos sindicatos.

Começámos a ter férias, subsídio de Natal e subsídio de férias, horas extraordinárias pagas, subsídio de alimentação e de turno, abono de família, descontos para a Segurança Social, criada para todas as profissões, algo que nunca pensámos vir a ter. Outras mudanças se efetuaram nos setores da economia em geral.

Como eu já era agricultor na barriga da minha mãe, foi neste setor que, nos finais de 79, resolvi abraçar a arte milenar de produzir para que outros pudessem consumir, trabalhando em moldes artesanais, como os meus pais o faziam. Quanto mais vejo uma agricultura assente em tudo menos na saúde das pessoas, neste caso nos consumidores, na ecologia, na defesa da biodiversidade, fico muito preocupado.
Sementes que ao longo de gerações nos alimentaram, sem adição de químicos e excesso de pesticidas. É este tipo de agricultura que acabará com a fome no mundo, aliás assim está escrito na Carta das Nações Unidas, referente à agricultura familiar e de proximidade.
Foi no IV e V Governo Provisório do General Vasco Gonçalves que este setor conheceu uma mudança nunca vista. Vejamos:

  • no setor leiteiro, criou-se as ordenhas coletivas nas freguesias, cooperativas de escoamento em cada concelho, com preços fixos e melhorados conforme o teor gorduroso do leite, sanidade animal e a inseminação artificial grátis;
  • nas hortícolas, as cooperativas agrícolas, a Junta Nacional da fruta, os mercados e feiras, o abastecimento de cantinas públicas, asseguravam o escoamento do produto e preços justos;
  • no setor do vinho, quando o comércio local não fosse suficiente, a Junta Nacional do Vinho assegurava o escoamento do vinho e sua exportação;
  • no setor da carne, havia produção suficiente para assegurar o consumo interno.
    Tudo mudou após a entrada de Portugal na então CEE e com as sucessivas reformas na Política Agrícola Comum.
    Hoje, pergunto: Estamos melhor? Quando mais de 70% do que consumimos vem do estrangeiro, quando a nossa economia está dependente do exterior? Que consequências para as gerações futuras?
    Mas não tem que ser assim. Também está nas nossas mãos lutar por um país melhor, soberano e desenvolvido. É hora de mudar de políticas. Com a força do povo e dos trabalhadores, afirmar os valores de Abril.