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Manuel Armando

Padre

Ao falar, o silêncio reduz

Nas embrulhadas do dia a dia social humano, ouço e concordo, por completo, que o silêncio é ouro. Reluz, mostra o seu valor e não atraiçoa quem, por desconhecer os pormenores de muitas coisas, opta por calar-se até poder ficar a par das situações e pormenores da realidade que deverá ser analisada, assegurando-se sempre a verdade séria e certa.
Falar-se de tudo e nada, ignorando os fundamentos e conteúdo daquilo que é trazido ao de cima na sociedade não é o ideal, até porque podem levantar-se suspeitas e problemas sem o mínimo decoro da sensatez.
No silêncio nunca ficaremos aquém do que é real, mas caminhamos muito para além daquilo que é a alienação da honestidade, indo, com passos largos, ao encontro de tudo quanto se nos revela durante algum momento da reflexão que é feita por nós próprios, dispensando quaisquer achegas externas que viriam apenas complicar os dados postos à nossa frente, misturados na imprecisão de saberes e considerações pessoais.
Querer ouvir o vozeamento estranho poderá levar-nos à surdez anímica e dúvida de caminharmos direitos, ficando sujeitos aos tropeços ocasionados por (des)conhecimentos, alheios e perturbadores, que imprimem no nosso espírito um permanente mal-estar, enfraquecendo-nos a sensibilidade e o equilíbrio mental que gostaríamos ver de plena saúde moral palpável.
A meditação silenciosa desanuvia-nos o caminho, afastando aquelas pedras que nos ferem e põem obstáculos à progressão a fazer-se em ordem a conseguir-se felicidade pessoal e comunitária.
Nem tudo o que luz é dia e seremos, por isso, impelidos a buscar noutras fontes uma água mais pura, onde a certeza se torne firme e a nossa convicção se apresente honesta e apta a ser testemunhada.
É frequente descobrir gente que parece ter uma necessidade inata de propalar assuntos que não domina, mas sobre os quais julga ter o direito de falar, dando opiniões ou fazendo análises escusadas e descabidas quando nem conhece o assunto a respeito do qual alguém se pronuncia.
Bem me recordo ouvir algo acerca de indivíduos da praça pública que deveriam estar calados, porquanto da sua boca saem só baboseiras.
Talvez eu mesmo já tenha ouvido mandarem-me calar por aquilo que expressei não mostrar o mínimo valor de aceitação. E vou ao ponto de depreender isso por uma simples intuição pessoal momentânea. Quando tal sucede, com naturalidade paro e procuro ponderar a justeza ou a inoportunidade do que proferi, com a agravante de ver assim estar o meu pensamento a vegetar sem pesar razões.
Qualquer travão é sempre muito salutar, enquanto carregado a fundo e atempadamente para evitar vexames e referências negativas de alguma pessoa que passa a troçar de alguém que, porventura, não teve relego na língua.
O silêncio proporciona particularmente um exame oportuno do modo de enfrentar as diversas vicissitudes, airosas ou dramáticas, com humildade e consciência eficaz. Evitará, decerto, instantes dolorosos de desilusão.
Fui habituado, durante anos, a tempos longos de silêncio e uma escapada a esse preceito, para conversa fora de horas, seria sancionada com um ralhete ou outra forma de admoestação. Nem sempre aceitei bem isso, mas, hoje, vejo quanto me ajudou a plasmar a minha pessoa, levando-me a pensar primeiro para falar depois.
Quando tenho de tratar dentes, também me sujeito a um exercício de alguma contenção, pois mandam-me ocupar a cadeira adequada e ordenam-me que abra a boca para… não falar.
Ora, aí está. O silêncio ajuda-nos a suportar dores, a medir a nossa dependência, a dominarmos a vontade pessoal e a não referirmos coisas, cujo teor não abarcamos.
Jamais nos afundemos na ilusão de sabichões porque quem nos ouve não acha graça nisso e está disposto a ocupar todas as nesgas do seu tempo para, como verdadeiro rato, não deixar sequer um dos ossos das nossas costas com a saúde que tanto procuramos e prezamos.