A gaiata é mesmo dez reis de gente. Mas é aquele olhar matreiro, espevitado e expressivo que tanto encanta. Encanta a família e os amigos. Encanta todos. E então na escola desde há muito que se nota as suas especialidades. Melhor: desde sempre, desde o infantário, que muitos percebiam que a traquina da Leonor era uma menina diferente, que dizia coisas diferentes, que pensava coisas diferentes, que fazia coisas diferentes.
A avó dizia muitas vezes: – Já ouviram esta resposta? Pode lá ser, um pirralho destes dizer o que diz? E os amigos riam a valer com as coisas inteligentes e adultas que a miúda contava e respondia, e também fazia. Não eram mesmo coisas para a idade dela – diziam. E a verdade era e é mesmo essa: a Leonor muito cedo falava como certos adultos, pensava como certos adultos, agia como certos adultos. Era um desconcerto bom a que toda a agente achava graça. Como ela tantas vezes dizia e diz: – Pai, tem calma, relax!…
E a Leonor continua hoje a ser isso mesmo: uma jovem-jovem mais que bonita, mais que inteligente, mais que vaidosa, mais que capaz. Uma teenager a sério! E também por isso gosta das coisas mais que diferentes: de fazer o que lhe dá na gana, de falar sobre o que lhe importa, de aprender o que lhe dá gozo, de fazer as coisas à sua maneira, de brincar com quem gosta, de estar onde lhe apetece.
E a Leonor, porque é assim como é, sabe bem o que outros pensam dela lá na escola. E até se percebe porquê: por lá vive-se rodeado das normalidades-de-e-para-todos. Mas isto é mesmo o normal: anda-se na escola obrigatória que diz que quer ser igual para todos e para todas.
E no meio disto tudo, a verdade é que a Leonor é uma jovem feliz, sadia, que ao seu ritmo e com a ajuda certa vai aprendendo o que tem de ser aprendido, e que mais tarde ou mais cedo vai mostrar a todos como é genial.
Neste exemplo da minha amiga Leonor estou cá a pensar em tanta gente que devia pôr os olhos nos génios que mudaram o mundo a sério e que rapidamente desconfiaram da escola. Isso mesmo: Conheço uns tantos, alguns famosos e outros nem por isso, que se puseram a andar bem cedo da escola para fora, antes que ela lhes fizesse mal. E olhem que eu acho que era a escola deles que estava mal.
O que continua a ser estranho é que tantos que se dizem especialistas em desenvolvimento e educação não consigam despir a pele de ‘profissionais-da-normalidade’ e não sejam capazes de ficar ao lado das Leonores, conhecê-las a sério como só elas são. Como cada uma é. Como diz a Leonor: – Pois, é só pensar um bocadinho!… Daaaaaaa!!!…
Ainda bem que hoje há lugares bons para continuar a ser genial, sem fugir dalgumas escolas e dalgumas gentes da escola. E vê-se que algumas famílias e algumas escolas estão, apesar de tudo, mais bem capacitadas, já pedem ajuda a quem sabe; já acreditam que o melhor está para vir. E isso é bom!
Afinal, as pessoas mais capazes do mundo vivem neste mundo!