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Jorge de Almeida Castro

Administrador do Colégio Instituto Duarte de Lemos

Certinho e direitinho

– Ei, amigas! Finalmente juntas! Maria, estás com bom aspeto. É da mudança de funções lá no teu trabalho?

-Ah-ah!… fazes-me rir! Estou bem, sim, mas cada vez mais cheia de trabalho. Sim, mudei de secção e estou bem melhor. Ganho um pouco mais e gosto mais do trabalho que faço. Mas na fábrica somos cada vez menos e o trabalho é o mesmo ou até mais. Não se ganha muito, mas é certinho no final do mês. O patrão sempre foi correto ao longo dos anos e nunca falhou. Está agora a pensar em concentrar as quarenta horas em quatro dias e meio de trabalho; fazemos uma hora a mais durante quatro dias, ou seja, nove horas por dia, e não trabalhamos à sexta-feira à tarde. A maior parte está de acordo. Penso que vai avançar. E tu, Joana, como te estás a dar no teu novo emprego?

-Olha, não podia estar mais satisfeita! Finalmente tenho um horário certinho. Faço as minhas trinta e oito horinhas semanais; ninguém me chateia. Ainda só reuni uma vez com o chefe e ele disse-me para fazer o que tinha a fazer e que não me incomodasse muito. Tenho agora tempo para tudo! Já não preciso de me chatear com o António todos os dias sobre quem leva as miúdas à escola. Foram muitos anos, sempre em grande stress. É certo que ganhava mais e que estava numa carreira que não tem nada a ver com esta. Mas não há dinheiro que pague este sossego. Não me chateio e é certinho ao dia vinte e cinco de cada mês. E é para toda a vida! Sabem, estamos naquela idade em que, ou mudava agora de vida ou nunca mais. E tu, Luísa, como te estás a dar na tua nova escola?

-Ui!… Nem vos conto!… Pensava eu que estava a tomar uma grande decisão e afinal fiz asneira! …Ou se calhar não… Como sabem, no ano passado estive no outro lado do mundo. Desterrada naquela vilinha alentejana. Por isso este ano só concorri para escolas aqui perto. Como esperava, não fui colocada, e fui trabalhar para a escola privada de que vos falei. Nem imaginam! As trinta e cinco horas semanais tinham de ser todas dadas na escola! Ou seja, vinte e duas horas de aulas e, depois, ainda tinha de ficar na escola o resto do dia a trabalhar, a preparar as coisas e a participar nas atividades que a escola tem, que são muitas. Era o que me faltava! Ao fim destes anos todos, sujeitar-me a isto! Há uns anos, estive uma escola em que a diretora também tinha essa paranoia dos professores lá estarem o tempo todo, como se fossem funcionários dela. Mas nessa altura tive sorte, estava a fazer uma substituição e ela quase que nem deu por mim.

-Então, mas já lá não estás na escola?

-Claro que não! Quando me apercebi do que me esperava, despedi-me logo!… Nem uma semana lá estive. Pus-me logo a andar, nem sequer assinei contrato; foi como se nunca lá estivesse!

-Então, mas agora estás desempregada?

-Oh minhas queridas, estou muito melhor assim, inscrita no desemprego. Não se ganha muito, é verdade, mas é certinho-direitinho e deixa-me tempo para fazer outras coisas. Olhem, fazendo bem as contas, estou a ganhar bem mais do que estaria a ganhar numa escola longe de casa.

O enredo do encontro de amigas que acabei de escrever é ficção. Mas as três estórias são bem reais, e eu conheço-as. Qualquer semelhança com estórias que o leitor conheça, serão mera coincidência.