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Jorge de Almeida Castro

Presidente da Direção Pedagógica da Escola Profissional de Aveiro

Como explico?!…

Muitos professores – se calhar quase todos – afirmam que dão aulas. Isso mesmo: – “vou dar aula amanhã!”; – “dou aulas na Escola Dona Ernestina!”; – “dou aulas de matemática!”; etc.; etc.

‘Dar aulas’ entrou no léxico dos professores, das escolas. Mas também entrou nas expressões rotineiras de toda a gente.

E nada mais errado. Os professores não dão aulas, assim como nenhum trabalhador dá o seu trabalho. Os professores trabalham e recebem pelo que fazem e não dão nada a ninguém. A não ser trabalho voluntário que alguns professores, quando atingem a reforma, oferecem nalgumas escolas – conheço alguns deles, e aqui lhes presto homenagem!

Lembrei-me desta expressão comummente usada – dar aulas – a propósito de algo que me continua a incomodar muito: o enorme e desregulado negócio das explicações, com o assentimento mudo e quedo das escolas públicas e de quem manda nelas.

Existem os chamados centros de explicações, constituídos como empresas; e existem os explicadores privados, os quais também podem ser empresas em nome individual. Uns e outros devem cobrar o justo aos explicandos, assim como devem pagar os impostos devidos.

Diz-nos o que vamos ouvindo que nem sempre assim acontece. Uns e outros falham na justiça das cobranças, assim como falham no pagamento devido de impostos.

Tudo isto sucede porque, lá está, o mundo das explicações está absolutamente desregulado e consentido acriticamente, e parece que ninguém está interessado em pôr-lhe mão.

Mas o que mais me incomoda mesmo é as aulas que se dão na escola e as aulas que se pagam nas explicações. Aparentemente, as aulas dadas na escola deveriam ser suficientes para que os alunos evitassem ter de ir receber aulas explicadas e pagar por elas.

A escola deveria ser o único lugar onde se ensina e se explica tudo o que há para ensinar e para explicar em matéria de estudos. Ensinar e explicar à medida de cada aluno, de acordo com o que cada um precisa para ter o sucesso que pode ou quer ter. A isto chama-se a tal “escola pública para todos” que tantos afirmam – especialmente os políticos e os sindicatos do costume, aplaudidos pelos educadores da treta.

Quando os alunos têm de sair da escola para ir receber ensino e explicações, individual ou em grupo, num qualquer gabinete de estudos ou numa qualquer marquise de casa de um professor, então estamos perante a falência da tal escola para todos em que alguns ainda acreditam. A escola é afinal só para alguns: os do costume.

Quem me dera estar a falar de coisa menor. Mas infelizmente, assiste-se, ano após ano, a centros de explicações cada vez mais cheios e à criação de novas empresas explicadoras. Damos de caras com mais e mais professores que não têm mais vagas para explicandos, afirmando que ganham mais a dar explicações do que a dar aulas.

Por entre tantas dádivas, alguma coisa está errada. Na escola e nos professores.