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Manuel Armando

Padre

“Crescer”, direito e preceito naturais

Quando paramos no meio da azáfama de todos os momentos e nos quedamos a contemplar alguma coisa, por mais simples e conhecida que seja, podemos dar conta de quanto perdemos, no decorrer do tempo, daquilo que nos daria outro gozo de vida, se, na verdade, o tivéssemos aproveitado com atenção e no instante devido.

Mas também é certo que apenas nos levantamos, depois de cair, ou, por outras palavras, trabalhamos por qualquer alimento no momento em que a fome aperta, o que pode ser tarde e se esteja já doente. É desperdiçar a oportunidade de quaisquer benefícios, por negligência ou desinteresse.

A meditação momentânea deve tornar-se num espaço de observação atenta ao mundo que nos envolve e no qual evoluiremos como pessoas que somos.

Fechar a visão à dimensão alargada e global da existência humana encaminha o indivíduo para o vazio sentimental, pessoal e comunitário.

É salutar observarmos a natureza de tudo quanto nos rodeia e faz parte dos nossos horizontes e aproveitar as ilações com que ela mesma, de forma silenciosa, nos dá oportunidade de aprender sempre mais alguma coisa.

Segundo as estações do ano e as vicissitudes climatéricas tudo se revolve independentemente da nossa vontade e colaboração. Todavia, muito do que palpamos neste amálgama universal supõe a mão dos homens numa espécie de ajuda necessária, mas não passa daí.

Vê-se as diversas espécies vegetais e animais mudarem e frutificarem naturalmente, dia após dia.

Extasiamo-nos se contemplamos as ervas, as plantas, árvores, flores e o resto que viceja à nossa volta. O fenómeno do seu crescimento é irresistivelmente maravilhoso e misterioso. O silêncio do calor e do frio, o rumor do vento e da chuva, a luz do dia ou o frescor da escuridão da noite, tudo vem coadjuvar na harmonia das coisas que crescem, até mesmo sem que alguém veja isso em algum instante. Por vezes, somente se depreende tal crescimento quando se saboreiam determinados frutos.

Os animais, por seu turno, nascem, crescem, reproduzem-se, são úteis aos homens e à Natureza, em milhentos métodos de utilização. Muitos são domesticáveis, não perdem a sua essência e parecem até progredir moralmente. Coisa estranha, não será?!

Também há pedras que aparentam o seu quê de crescimento.

Numa certa altura, razões de trabalho levaram-me a visitar a região das chamadas “pedras parideiras”. A força simples da Natureza determina que elas se vão enchendo de cascalho e na maré própria emagrecem, deixando que o seu “ventre dê à luz” outras pedras. Interessante! Depois de crescerem, “reproduzem-se” para admiração de quem contempla.

Transpondo a lei do crescimento para a esfera dos homens, quase nem louvamos tal acontecimento, porque certamente acharemos que é o que tem de ser por força das leis naturais. Parece possível que, não dependendo de si o juntar um côvado à própria estatura, alguém se esqueça de trabalhar com afinco no seu crescimento moral e espiritual.

Criam-se os homens com estatura física de dimensões ditas normais, mas estes, com alguma frequência, assumem-se autênticos pigmeus no que respeita ao seu ser inteligente e animado.

Em tempos, – contam-nos a História e alguns Romances clássicos – por maldade humana e práticas descorteses, impedia-se o crescimento de homens que assim eram feitos artificialmente anões para, nas arenas de circo, serem utilizados no divertimento e gáudio animalesco de Imperadores e seus convidados nobres.

Há os homens liliputianos, de estatura corporal diminuída, por sua natureza própria, mas agem como pessoas que são com os seus afazeres normais, física, psicológica e moralmente.

Pior é, na verdade, quando o crescimento corporal de alguns indivíduos não se faz acompanhar de um desenvolvimento e acomodações que atinjam os valores espirituais próprios, por falta de consciência ou depravação da comunidade em que todos estamos inseridos.

A sociedade dá impressão de querer encaminhar-se para a derrocada, a avaliar-se a dissidência geral de tantos e tantos valores que fariam uma Humanidade segura, tendo em vista o bem comum, a paz, a justiça, a fraternidade.

É reprovável, e até crime social, que uma omissão voluntária do ser humano o leve a não ver que o seu crescimento interior depende do esforço de cada um e terá de considerar-se dever e preceito morais.

Há eunucos por vontade congénita ou vocação, mas também proliferam outros que o mundo de hoje, numa contextura meramente materialista, castrou de maneira assaz vexatória e diabólica (cfr. Mt.19/11-12).

Que Deus perdoe a todos.