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João Pacheco Matos

joaopmatos@hotmail.com

Debates

Muito se tem falado sobre os curtos debates e longos comentários televisivos destas últimas semanas. As notas e as avaliações qualitativas. Quem foi mais agressivo e quem estava mais impreparado. Quem evoluiu ao longo dos debates e quem perdeu fulgor. Toda uma parafernália de análises para todos os gostos durante horas.

O modelo que temos em Portugal é relativamente original. Começou no final dos anos 90, por iniciativa de António Guterres, que promoveu debates “todos contra todos”. No entanto, na altura, havia apenas quatro partidos. Seis debates.

Este ano tivemos oito partidos e 28 debates. É preciso grande dedicação – e tempo, para seguir 28 debates…

Sou adepto de um modelo com menos debates para cumprir paridades e mais debates entre os dois candidatos a Primeiro-Ministro – um modelo mais comum na Europa. Prefiro a relevância, à igualdade. As televisões não são o parlamento e o critério jornalístico é mais livre do que o do Presidente da AR.

Até porque normalmente, os debates entre partidos do mesmo lado político costumam ser desinteressantes; os debates entre as franjas e o centro costumam ser aproveitados pelos mais pequenos para dar nas vistas com assuntos barulhentos; e os debates entre os extremos opostos raramente se podem chamar debates e não raras vezes são pouco edificantes.

Mas percebo que, aberto o precedente em 1999, seja agora difícil dizer aos partidos mais pequenos que terão menos protagonismo – o que não quer dizer que, mesmo assim, não pudesse haver mais um ou dois debates “extra” entre o líder do PS e o do PSD – mas Pedro Nuno Santos, apesar de cultivar uma imagem de líder destemido e corajoso, não quis.

Com tantos debates desinteressantes, acabamos muitas vezes por ficar na estranha situação em que os comentários posteriores têm mais interesse do que os debates em si – até porque há bons comentadores de política.

No entanto, a falta de uma grelha comum de avaliação, deixou cada comentador com o seu critério, o que, ao contrário do pretendido, dificulta a análise do eleitor.

Pode-se dar muitas voltas, mas na verdade, ganhar um debate mede-se no número de votos que um candidato ganhou ou perdeu comparando com os que tinha no início do debate.

Tomemos como exemplo o debate mais agressivo dos 28, entre o Livre e o Chega. Não há transferência de votos entre um e outro. A atitude belicosa e incorrecta de André Ventura não terá contribuído para angariar votos de quem estivesse numa zona cinzenta entre o Chega e o centro-direita, que tradicionalmente preza muito a família e o respeito pelos valores tradicionais – valores que o Chega diz defender, mas que, quando posto à prova, se esquece rapidamente, caindo a máscara.

Pode-se dizer que neste debate, André Ventura ganhou a disputa da gritaria, reforçou a convicção dos seus fiéis seguidores, mas não ganhou o debate, pois não terá conseguido mais votos do que aqueles que tinha antes do debate.

Já a forma atabalhoada como Rui Tavares apresentou o caso da escola dos seus filhos, entrando no terreno do conflito verbal – que não é definitivamente o dele – e abrindo essa janela onde o seu oponente se sente bem, não só não lhe permitiu ganhar votos como potencialmente terá perdido para o PS e BE, dada a sua manifesta falta de habilidade.

É um caso em que, ao contrário do futebol, ambos podem perder.

E.T.: Não podia deixar passar a oportunidade de congratular o Jornal da Bairrada, os seus accionistas, a direcção e todos os colaboradores pelo 73.º aniversário do jornal. Que não lhes falte energia, criatividade, recursos e paixão para continuar a proporcionar informação local e regional relevante não só para os bairradinos residentes, como para os que estão fora da sua terra. Bem hajam.

Texto escrito ao abrigo do anterior acordo ortográfico, por vontade expressa do autor