A nossa vida em sociedade será sempre uma inquestionável interrogação. E, por mais argumentos ou explicações que possam aduzir-se, a cada instante, continuamos perturbados, uma vez que prevalecem as dúvidas sobre a justeza de qualquer acomodação final precisa e construtiva, em muitos assuntos candentes.
A profusão de cartazes que se exibem em tons da arruaça rumorosa de “Maria vai com as outras” traz à tona da imaginação os montantes económicos gastos, de resultados imprevisíveis, mas, seguramente, assentes sobre bases inseguras e vazias, ou seja, sem grandes probabilidades de sucesso e melhorias seja em que âmbito for.
Prolongam-se dias e períodos de luta, apregoam-se as infindáveis ameaças nas diversas manifestações folclóricas, mas os ganhos positivos continuam sepultados na caixa secreta de quem governa, produzindo sobre todos os movimentos um riso escarninho desses mesmos indivíduos que deveriam empenhar-se na defesa de um bem comum.
E toda a barulheira, porém, parece não ter fim, porque tudo surge organizado para ser uma corrente contínua, de modo a que, quando um sector social não vê resultados pretendidos, amaina e prepara a recuperação, aglutinando forças diferentes e oferecendo a oportunidade de outro tomar posição e rédeas, encetando também a sua luta até “se cansar”, para, por sua vez, ser substituído pelo seguinte.
Significa isto tudo que a comunidade se sujeita a estar numa sublevação desenfreada permanente.
Para cada pessoa ou grupo será justo este movimento frequente. Se as leis consentem e permitem fazê-lo, nada a opor.
Todavia, o meu entendimento, talvez tacanho, não avança muito além das frases de numerosos cartazes, impressos a bom preço, que exprimem mais ou menos as metas reivindicativas de certos grupos bem determinados e identificados.
Analisemos algumas das suas peças mais sonantes: – «Enquanto houver um professor de pé, não haverá povos de joelhos»; «Unidos com convicção pela Educação»; «Em luta por uma carreira digna»; «Contagem integral do tempo de serviço»; «Os Professores em luta»; «Quem não luta pelo futuro que quer, deve aceitar o futuro que vier»; «A Educação merece respeito»; «Quem se importa com os Professores?»; «Somos Professores, somos o rosto do futuro» (mal vamos!); «Sou professor com orgulho, apesar do meu salário»; «Professores em greve por melhores condições de trabalho e salário digno»; «Professores a lutar também estão a ensinar» (esta é de mestres!); «Respeito e dignidade pelos Professores» (aqui não entendo bem a sintaxe); «Basta!» (esta a melhor e mais adequada frase de cartaz).
Tudo sai bem orquestrado, sem dúvida. Mas continuo (serei só eu?) a lembrar um conceito que aprendi, desde bastante novo, quando me ensinaram que o meu direito vai só até ao limite de quando e onde começa o direito do outro, isto é, a minha liberdade termina ao vislumbrar-se a exigência da liberdade do meu semelhante.
Ora, então será que tantos alunos não colhem a justiça de entrarem nas aulas para aprenderem e serem formados no saber e não se acharem, involuntariamente, associados às lutas e revoltas?
A rua, ou seja, a falta de aulas e estudo ou ainda a ausência de formadores calmos e competentes, aprendizagem adquirida em tempo acavalado, exames sem a devida preparação adequada é que serão as bases sólidas para os futuros mentores da sociedade que se requer sadia e moderada? Como podem tornar-se, no futuro, promotores de paz se se vêem embrulhados e confundidos na guerra do ódio malcriado e das palavras acerbas, proferidas por quem se define educador?
Que se procure a verdade da execução dos direitos, sim. Que todos os trabalhadores, sejam de que área forem, devam sentir-se tratados com respeito, sim.
Todavia, mais justo e bonito seria apelar por tudo quanto pertence ao indivíduo, mas pesando a responsabilidade que sobrevoa uma juventude, donde, no amanhã, sairão os governantes e gestores de uma sociedade que, natural e infelizmente, não lhes reconhecerá competência nem importância.
Com sinceridade, olho para os tumultos de quase todos os dias e reparo que, afinal, não se procura a conveniência dos direitos porque se pisam os dos outros; não se dão ao respeito porque também não o mostram em relação aos demais.
Há uma grande confusão e teremos, todos, de deduzir que não interessam o respeito e o direito, mas tão somente o dinheiro e este nunca saciará quem, na vida, o procura sob capas que se descobrem vulneráveis.
Se tal empreendimento não é já aceitável em alguma classe de trabalhadores braçais, muito menos o será naqueles que se apregoam como valores aptos e exemplos de educação social, moral e cívica.