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Jorge de Almeida Castro

Administrador do Colégio Instituto Duarte de Lemos (IDL)

E o burro sou eu?

“Ir ao cinema, mas não chegas a tempo do filme?; ir ter com os teus amigos, mas estavas demasiado cansado depois de um dia cheio de aulas?; e se tivesses tempo para viver?; é urgente valorizar o ensino profissional e pôr fim à sobrecarga horária e ao sistema de falta injusto; o direito ao tempo livre não é luxo, é direito.”

Acabei de retirar estas frases do twitter oficial duma organização política portuguesa. Trata-se de um movimento de jovens, organizado, que se intitula como juventude comunista portuguesa, patrocinada politicamente pelo Partido Comunista Português.

Louvo o exercício do direito fundamental que é cada um poder fazer parte dos movimentos que quiser. Louvo o direito de cada um, em consciência, poder optar pelas ideias que entender. São exercícios bons, neste tempo e neste espaço onde a democracia chegou.

O que já não louvo é o incitamento gratuito, com frases vulgares e frouxas, à formação medíocre de uma geração. Até podemos entender que os jovens, nos seus ideais irreverentes, olhem para o seu tempo e para a sua vida como as coisas únicas que para si valem a pena serem olhadas. Ser jovem será isso mesmo. Mas servir-se de um partido que se afirma construtor da democracia para incentivar à mediocridade na educação, já não entendo nem aceito.

Afinal, o que é (deve ser) para um jovem estudar numa escola? Não deve ser aprender? E como se aprende na escola ou na vida? Exercitando seriamente direitos e deveres, parece-me a mim.

Independentemente de falarmos de ensino profissional ou de alguma outra formação escolar, qualquer ensino-aprendizagem só sai valorizado se houver esforço, houver trabalho, houver persistência. E também o direito legítimo de compatibilizar tudo isso, naturalmente, com outros momentos em tempo livre. Afinal, como na vida vivida responsavelmente!

Na escola, como na vida, custa-me a aceitar que uns trabalhem e outros não. Não percebo a razão por que deveremos apoiar e tolerar aqueles que, estando apetrechados de capacidades e competências fundamentais idênticas, não querem trabalhar, não querem esforçar-se, não querem aprender como os outros. Apenas querem exercer os seus direitos, sobrepondo-os aos seus deveres.

Vivemos um tempo em que pouco ou nada falta aos jovens. A começar pela escola gratuita até aos 18 anos de idade. Esta será, para mim, a maior das riquezas que o nosso país tem. A maior riqueza da nossa democracia. Esta riqueza existe porque milhões de trabalhadores contribuintes a pagam. Doutro modo, sem que pessoas adultas responsáveis trabalhassem, se esforçassem nos seus deveres, dificilmente os jovens portugueses teriam vida tão boa e desafogada para, durante 12 anos da sua vida, pelo direito à educação que usufruem, apenas tivessem de exercer o dever de estudar e de aprender.

Por isso não aceito que na escola, naquele que é o melhor lugar onde se pode aprender a riqueza do direito e do dever de trabalhar, se eduque para a malandrice; se eduque só para o direito ao descanso. Só depois do dever de trabalhar se deve ter o direito a descansar. E essa coisa de ficar cansado a estudar, sobretudo nos tempos que correm, tem muito que se lhe diga!…