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Manuel Armando

Padre

Entre roubalheira e honestidade…Qual a escolha?

Tal pergunta quase me baralha o cérebro, mas ela tem de ser feita na procura de uma resposta cabal e responsável.

Receio, porém, não distinguir já os verdadeiros significados de um e outro vocábulo. Por isso e para maior segurança, recorro ao meu velho amigo e abnegado companheiro Dicionário de Português que me assiste desde os primeiros tempos nos bancos de estudo. Ele, nesta ocasião, informa-me que “roubalheira” é igual a “roubo importante e escandaloso”.

Ora, nem mais! Quanto ao desaforo do escândalo, ainda vou percebendo, mas que o mesmo seja um acto importante já não me conformo nem isso entra bem nos meus neurónios.

A prática e o sentido da honestidade aprendi-os, logo em pequenito, na minha casa paterna, verdadeira escola, onde meus pais, com bastante paciência, saber e, sobretudo, apresentando-os como norma de vida, me foram indicando ser um caminho para levar a sério até à vitória de todos os dias, pois, com tal valor aos ombros a batalha estava, de antemão, permanentemente ganha.

Penso e espero que todas as famílias tenham a preocupação de abrir as diversas veredas da honestidade para que os filhos não resvalem perante a mofa, desprezo e desespero de uma sociedade que se faz esquecida nalgumas determinadas exigências.

Aliás, não haverá razão de tal orientação ficar de parte, uma vez que as turmas a educar são mais reduzidas. Hoje, as famílias têm a cultivar um ou dois filhos, enquanto, nessa minha “escola antiga” éramos uma turma avantajada de oito elementos e todos passámos com notas altas nessa disciplina da honestidade.

Agora, porém, desequilibra-me amargamente a carga de dúvida, instalada em todos os quadrantes da presença humana a partir de tantos exemplos deploráveis e desavergonhados que se desprendem em catadupa, todos os dias, enchendo páginas de Jornais ou voando nas asas dos diversos meios de comunicação social, sem se vislumbrar justiça equitativa, também aplicável, – pelo menos, deveria ser – aos indivíduos que prometem, nas marés da tomada de posse dos cargos a desempenhar, agir com a máxima consciência e lisura mas que, dias depois, estão apanhados nas redes mais sórdidas dos desvios em desonesta roubalheira.

E não é preciso muito esforço para repararmos nisso, porque o sol se encarrega de pôr a claro muito daquilo que os seus autores quiseram fazer permanecer na penumbra dos esconderijos ou nas trevas das noites escuras de uma sociedade tremente nos seus alicerces com o receio fundado de um abalo iminente.

Certamente, se fossem constituídas comissões para a eventualidade de pesquisa imparcial dos casos existentes, em campo aberto, não haveria tempo nem papel suficientes para exarar o número de queixas e frustrações do mais variado jaez.

A minha repulsa pode basear-se em diferentes direcções, onde o prejuízo é notório, ante a indiferença cobarde de agentes a quem competiria travar a tal roubalheira.

Querem os leitores um exemplo, para mim, flagrante? Então ele aqui fica. Fui roubado, há poucos tempos atrás, em quase cinco centenas de euros, para pagamento de um mês de água que não gastei – casa não habitada há anos, contador bem fechado, nenhum indício de qualquer fuga possível, etc, etc. Um técnico, indo ao local, nada observou de anormal. Mistério! O caso foi entregue ao Advogado a quem ninguém da entidade fornecedora se dignou responder, até agora.

Muito sucintamente narro nesta coluna o caso para, apenas, deplorar, unido certamente a grande número de gente, exemplos que nos chegam de quantos, misturados no meio de indivíduos sérios, conspurcam a sociedade que poderia ser a lídima defensora dos valores carregados de paz e tranquilidade, tornando as comunidades mais fraternas, de mãos dadas.

Diante do dilema consignado na roubalheira ou na honestidade, eu, então, opto por escolher a segunda, honrando também o testemunho e exemplo de quem me ensinou, desde a tenra idade, que assim deveria ser a permanente atitude de todos os humanos.

Texto escrito ao abrigo do anterior acordo
ortográfico, por vontade expressa do autor