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João Pacheco Matos

joaopmatos@hotmail.com

“Face a 2023”

  1. Sou leitor assíduo do Expresso desde que me lembro de ser gente. Tenho uma admiração profunda pelo jornal e pelo seu fundador no papel fulcral que teve – e tem – na qualidade da democracia. Confesso também que julgo o João Vieira Pereira um excelente jornalista e um óptimo director do jornal, com quem aliás tendo geralmente a acompanhar nas suas opiniões.

Serve este intróito para que não se confunda a opinião que vou transmitir a seguir, com crítica acéfala que hoje é norma fazer nas redes sociais e demais tabernas (perdoem-me as tabernas) aos jornais e jornalistas. Aliás, o Expresso é criticado por essa mole de gente por ser de direita, por ser de esquerda, por só dar voz ao centro e por dar voz aos extremos. O que significa que o Expresso está na verdade a desempenhar bem a sua função.

Posto isto, tenho para mim que o JVP não pode afirmar “É mais do que um embuste. É enganar os portugueses”.

Vou tentar, tal como fiz na crónica da semana passada, cingir-me aos factos.

Na notícia de dia 11 de Abril, pela qual o Expresso pede desculpa, a jornalista Elisabete Miranda escreve “Durante o debate de apresentação do programa do Governo, Luís Montenegro diz que vai devolver aos contribuintes, só por via da descida de taxas, €1,5 mil milhões face a 2023. A medida implica que a receita fiscal de IRS desça dos €18,15 mil milhões encaixados no ano passado para os €16,65 mil milhões este ano, e até ultrapassa a redução de IRS que já foi aplicada este ano pelo anterior Governo (na ordem dos €1,33 mil milhões)”. E está correctíssimo e em consonância com o que foi dito pelo PM e escrito no programa eleitoral e de governo.

É no parágrafo seguinte que a jornalista dá uma indicação errada e contraditória com o que tinha acabado de escrever “Se o plano de Montenegro avançar, os contribuintes terão este ano um alívio de IRS em torno de €2,83 mil milhões”.

É legítimo afirmar que o governo deixou a dúvida pairar propositadamente. É legítimo questionar se afinal há realmente uma redução da carga fiscal (note-se que nesta campanha, o PSD nunca aceitou a expressão “choque fiscal” apesar de várias vezes pressionado nesse sentido). É legítimo os mais liberais reforçarem a ideia de que a baixa de impostos devia ser maior. É também possível – e não faz deles menos honestos ou menos profissionais – que os jornalistas não tenham tido a argúcia de fazer as perguntas necessárias ou de forma mais persistente.

As palavras importam e o que não se pode dizer é que tenha sido um embuste ou uma fraude.

  1. Ainda no PSD… estou com dificuldade em entender este Passos Coelho versão 3.0. Se a passagem da versão 1.0 (o líder rebelde da JSD que confrontou Cavaco e apresentou algumas das propostas mais radicais nos costumes à época) para a versão 2.0 (de PM responsável, verdadeiro, directo, estóico que agarrou o país no seu pior momento) pode ser encarada como uma evolução e crescimento como ser humano, como político e até como profissional (finalmente licenciou-se aos 39 anos, durante esse processo), já a passagem para esta versão 3.0 deixa-me acima de tudo perguntas.

A primeira é exactamente qual é o seu objectivo. Dir-se-ia que o recente ataque a Paulo Portas elimina um concorrente à presidência, tal como a aproximação mais conservadora preenche todo o espaço à direita. Mas o que perde ao centro justifica?

Por outro lado, percebe-se que à luz da frustração de 2015, gostaria que o PSD fizesse agora o mesmo à direita. Mas não acredita que o Chega abafa o PSD se lhe for dada essa abertura?

E mais estranho, qual o propósito deste afastamento relativamente a Montenegro?

Suspeito que voltarei a este tema em breve…