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Jorge Sampaio

Vice-Presidente da Câmara Municipal de Anadia

Falar para não estar calado

Ao ler o último artigo de opinião do Vereador André Henriques, compreendi que o desespero de não ser ouvido, provoca a ansiedade de falar, com uma capacidade invulgar de abordar o todo, sem dizer nada.
Entre uma rabanada e uma fatia de Bolo Rei, tentei perceber alguns dos sonhos evocados pelo texto, e percecionar as ideias, e a forma de pensar, nele transcritas.

O MIAP não é um partido político…
Alvíssaras, senhores, alvíssaras, que o Vereador descobriu. É isso mesmo, o MIAP não é um partido político, é um Movimento Independente, constituído por um Grupo de Cidadãos Eleitores, conforme consagrado na lei. Por muito que custe aos partidos políticos.
Mas, a abordagem do pensamento foi ainda mais longe, e mais profunda, através de uma dedução digna dos mais frenéticos vassalos partidários – o MIAP não é um partido político, por isso vazio de ideologia.
Pensava eu que o Vereador tinha a capacidade suficiente para entender que a ideologia das pessoas não se limita às estratégias partidárias, mas sim ao pensamento livre de cada um. Este conceito de liberdade de pensamento não é fácil de aceitar, quando a limitação de ideias pessoais impera, e a formatação é imposta pela obrigação de obediência a um símbolo de um Partido.
Acresce o sentimento, que os partidos e seus escudeiros têm, que a Democracia é sua pertença, intitulando-se como donos da mesma.
Pois, mas não são! Os partidos políticos foram atores decisivos na luta e conquista da Democracia, são um dos garantes da sua defesa e preservação, mas não são os seus titulares. A Democracia não tem proprietários, apenas usufrutuários. Só assim se manterá como um bem maior.
O MIAP não é um partido, nem o quer ser. É um conjunto de pessoas que poderiam estar nos partidos – e muitas delas tiveram enormes pressões para isso – mas que optaram, de forma livre, por apresentar um projeto diferente para o Concelho de Anadia, continuando o trabalho feito.
A sua ideologia resulta da soma das ideias de cada um dos seus elementos, num claro propósito comum – a defesa do Município de Anadia.
E foi assim que se apresentou a eleições e as ganhou aos “ideológicos” partidos políticos.

O MIAP teve menos votos, e perdeu um Vereador, em relação a 2017…
Ora aqui está algo em que o Vereador acertou. É verdade, em relação às Eleições Autárquicas de 2017, o MIAP teve menos votos e menos um Vereador eleito.
Mas também não deixa de ser verdade que este ano, ao contrário de há quatro anos atrás, teve como adversários todos os partidos políticos, com as suas máquinas partidárias e todas as suas “ideologias”, e mesmo assim, este Movimento Independente, cujo valor se cinge apenas ao valor, e à livre ideologia, de cada um dos seus elementos (sem máquinas partidárias), teve mais votos que o PSD e o PS juntos, garantindo a maioria absoluta, na Câmara Municipal de Anadia. Mesmo sem a dita “ideologia” que o Vereador tanto aclama, e defende.
Relembro ainda que, quer o PS quer o PSD, tiveram o pior resultado eleitoral de sempre, para a Câmara Municipal de Anadia. Mas o que importa isso? O importante é que tenham “ideologia”.

Ser Independente é uma moda…
Não, não é! Ser independente é um direito, de todos! Assim como pertencer a um partido também é. Ambos, são direitos de qualquer cidadão que habite num país livre e democrático, como é Portugal. Essa é uma das grandes virtudes que a Democracia nos garante – podermos defender as nossas ideias com liberdade e coerência.
Não compreender isto, é negar a base conceptual da Democracia, ou procurar justificar os fracassos eleitorais obtidos, escudando a falta de votos na moda de votar nos outros, esquecendo-se que há casos que nem a moda salva.

E o Orçamento?
E eis que, lá pelo meio do texto, o Vereador também abordou o Orçamento Municipal para 2022, e em três ou quatro parágrafos, conseguiu misturar Rui Rio com WC´s, demagogia com pandemia, o Congresso do PSD com Parque Urbano, e ainda falou do investimento de 600.000 euros que a Câmara vai fazer no Centro de Saúde de Anadia, do seu próprio orçamento municipal, afirmando que esta infraestrutura está a cair de podre. Apenas se esqueceu de dizer que este investimento não deveria ser a Autarquia a realizar, mas sim uma obrigação do Governo da Nação, que por acaso é de um partido com a “ideologia” do Vereador.

Nós vamos continuar…
… sempre para a frente, com olhos no futuro. Foi essa a responsabilidade que os Anadienses nos pediram, a 26 de setembro, e nos vão exigir até 2025. Continuar o trabalho, de forma coerente e objetivada numa ideologia clara e única – o Concelho de Anadia.

Resta-me desejar um ano de 2022 cheio de sucessos, para todos!