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Jorge de Almeida Castro

Presidente da Direção Pedagógica da Escola Profissional de Aveiro

Feliz Ano Novo!

Tempos houve em que simplesmente não podíamos fazer coisas básicas como aprender a ler e aprender a escrever. Simplesmente porque havia uns senhores que mandavam na educação (e em tudo!) no nosso país e, por isso, entendiam que só alguns podiam estudar; só alguns tinham o direito de aprender. Por essas e por outras é que o nosso país, durante anos e anos, se transformou num país pobre, desinformado, mal-educado, irresponsável, desigual, incapaz.

Só há (quase) cinquenta anos alguma coisa, coisa básica, mudou no nosso país. Conquistou-se a liberdade fundamental de todos terem acesso a um bem precioso e princípio de tudo: a escola. A escola obrigatória. Só depois da liberdade conquistada em vinte cinco de abril de mil novecentos e setenta e quatro foi possível ter acesso livre (gratuito e obrigatório) a um tempo mínimo de educação considerado bom para a vida: para sermos melhores pessoas, sermos melhores cidadãos, sermos melhores profissionais. E é por isso que hoje todos podem (e devem) ter acesso à escola. Todos têm o direito de aprender a ler, aprender a escrever, aprender a contar, aprender a falar. Hoje, no nosso país, todos podem e devem andar na escola até aos dezoito anos de idade. Porque é aí e até essa idade jovem que todos os portugueses devem aprender, em liberdade, a responsabilidade que lhes pertence praticar durante toda a vida.

Por isso, mesmo esta liberdade conquistada, decretada, não pode ser desperdiçada. A possibilidade de andar na escola durante doze anos, sem discriminação, apoiado nas dificuldades, orientado para a vida, deve ter a contrapartida mínima de, responsavelmente, alunos, famílias e comunidade em geral aproveitarem bem este privilégio que um país mais maduro, mais capaz, consegue hoje fazer.

Por isso, a liberdade na escola conquista-se todos os dias. Porque não existe liberdade quando cada um não cumpre o seu dever. Não existe liberdade quando somos irresponsáveis no cumprimento das nossas obrigações. Não existe liberdade quando somos negligentes no exercício do trabalho que nos pertence. Porque a liberdade conquista-se em todos os momentos, quando alunos, famílias, professores, técnicos, dirigentes, parceiros cumprem o dever que a cada um pertence. Só assim há liberdade na escola.

E só haverá mesmo liberdade na escola quando quem governa reconhecer o lugar que cada aluno, cada família identificou como o melhor para educar e ser educado. O melhor lugar que cada aluno, cada família deseja para a educação que quer ou que precisa.

Mais do que haver liberdade de escolha para frequentar uma escola pública ou uma escola privada, importo-me mais por insistir na necessidade urgente de quem governa o país, em liberdade-quase-cinquentona, ter a coragem de identificar as escolas públicas e as escolas privadas capazes de responder bem e maduramente ao que cada aluno, cada família precisa da escola. Depois, permitir que cada aluno, cada família opte, em liberdade de escolha, pela escola que melhor lhe serve.

Permitir, incentivar e legitimar o seu contrário, é cometer uma espécie de ‘crime imaterial da humanidade’. Provavelmente muitos alunos, muitas famílias serão infelizes para toda a vida por causa da escola que não escolheram livremente. Devia haver punição para tamanho ‘crime’!

Quero, como tantos (felizmente cada vez mais), que existam escolas capazes de cumprir bem o seu dever de escola. É para isso e por isso que se chamam escolas, e estão devidamente autorizadas a funcionar por quem manda. Todas as escolas, públicas e privadas, têm o dever de justificar o dinheiro dos portugueses que é investido na educação dos alunos que têm à sua responsabilidade. Porque afinal todas as escolas são serviço público de educação. É ou não é?!…

Chegou o novo escolar 2023-2024. E o novo deve ser coisa boa. Para todas as escolas, para todas as comunidades escolares e para todas as comunidades educativas. Feliz ano novo!