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António Augusto Fontoura de Ataíde Guimarães

Presidente da Associação Florestal do Baixo Vouga

Gestão da Floresta: será que a ‘bazuca’ vai chegar ao terreno?

Tenho a firme convicção que não há proprietário ou produtor florestal que não ame a floresta. Todos temos a plena consciência do seu valor, quer pela sua importância ao nível ambiental, quer ao nível sócioeconómico, na criação de riqueza, na garantia de serviço para milhares de empresas, e de dezenas de milhares de postos de trabalho.

As externalidades positivas ou serviços de ecossistema, segundo alguns autores, têm um valor extraordinariamente superior à simples produção de produtos de base florestal, que já por si representa mais de 10% das exportações de Portugal.

Apesar disso, vivemos e sentimos como ninguém o abandono da nossa floresta e do território, não só pelas diferentes políticas associadas, mas também pelos diferentes governos e governantes que continuam a impor as suas leis, fazendo com que a floresta que devia ser amada por todos, comece a ser vista pela maioria da sociedade como um pesado fardo.

Os diagnósticos sobre a floresta estão feitos, não faltam conhecimentos científicos, nem programas, nem planos, nem leis para salvar a floresta. Porém, na nossa modesta opinião, é no terreno, ganhando a confiança e a participação dos produtores e proprietários florestais que estará a resolução da maioria dos problemas.

Sendo assim, permitam-me formular um voto de esperança e confiança: Que os milhões de euros, mais de 650 milhões, vindos da Europa através do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) a dita bazuca, que o senhor ministro do Ambiente tem anunciado, sejam efetivamente aplicados na floresta, levando à prática tantos e tantos conhecimentos adquiridos.

Pedimos igualmente a quem nos governa que não esqueçam também a floresta de vocação produtiva e as limitações das regiões onde se desenvolve, principalmente o minifúndio e a dispersão da propriedade, que inviabiliza qualquer projeto sério de sustentabilidade num futuro próximo. Não se pense que só a floresta de conservação, com a injeção maciça dos capitais previstos através dos programas de reordenamento e gestão da paisagem resolverá os problemas.

Além disso, precisamos que as medidas florestais sejam mais simples, menos burocráticas, mais orientadas para os problemas reais e locais com prévia afetação regional dos recursos disponíveis.

Na nossa modesta opinião, só com economia será possível implementar modelos sustentáveis e a sociedade reconhecerá o esforço dos produtores florestais e das suas associações, incluindo nos programas do governo os tão solicitados contratos-programa, há muito prometidos, consubstanciando o apoio adequado ao serviço público que estas prestam no terreno.

Só envolvendo, capacitando e dando recursos aos atores no terreno, será possível mudar a situação de abandono atual, tendo em vista uma floresta sustentável e economicamente viável, numa estratégia concertada entre os agentes do setor e os serviços oficiais existentes.