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Jorge de Almeida Castro

Administrador do Colégio Instituto Duarte de Lemos

Incompetência e cobardia

– Eu compreendo… compreendo mesmo, acredite. E sei que o melhor para a Maria era mesmo ir para a vossa escola. Mas não posso fazer nada. Eu nem sequer coloco a questão ao diretor; não quero problemas! E por favor, entenda, esta conversa nunca existiu entre nós. Se disser que existiu, eu nego!

É evidente para quase todos os que estão a intervir neste processo que a oferta educativa naquela escola pública, para aquela jovem, não é a mais ajustada e está esgotada. Por isso, ela tem tido insucesso continuado. A ausência da família tem condicionado ainda mais as aprendizagens não realizadas pela jovem aluna ao longo dos tempos.

Esta foi uma resposta ao telefone de uma psicóloga ao serviço duma escola pública do nosso país, quando um responsável duma escola privada (onde os alunos não pagam) a confrontava com uma realidade que ambos estavam a perceber: uma aluna, com insucesso continuado na dita escola pública, necessita de ser transferida para outro projeto educativo que se ajuste às suas necessidades e competências. Porém, o diretor daquela escola pública não quer que a aluna saia da sua escola. Parece que por razões estatísticas ou logísticas, que nada têm a ver com as necessidades específicas da aluna.

Perante a possibilidade de mudar de escola, podendo experimentar uma alternativa educativa que, segundo a psicóloga, seria bem melhor, eis que a incompetência, a desonestidade e a falta de ética de um diretor impede que a aluna seja transferida de escola. Mais: este gestor medíocre condiciona a ação da psicóloga, a qual deveria ser absoluta e deontologicamente livre.

Este episódio, bem real, que aconteceu na semana passada, é seguramente muito igual a tantos outros que são calados ao longo do ano escolar, ao longo dos anos escolares.

Os alunos não são propriedade de escola nenhuma! Muito menos os seus destinos educativos são propriedade de qualquer diretor escolar!

E os psicólogos também não são propriedade dos diretores escolares; não estão ao seu serviço, nem ao serviço de interesses mesquinhos e irracionais de qualquer escola. A sua independência e a sua deontologia profissional deveriam estar acima de todos e quaisquer interesses organizacionais. Um psicólogo escolar sabe bem os seus direitos e os seus deveres profissionais. Se não os exerce, é um psicólogo fraco e não merece ter uma carteira profissional.

Continuamos a tropeçar, ano após ano, em gente que está a mais nas escolas e na educação. Está a mais, porque não só não faz o trabalho que lhe está destinado, como ainda por cima não deixa os outros mais capazes fazerem o trabalho que sabem fazer bem.

Esta verdade só não é tão evidente, porque, apesar de tudo, a grande maioria dos jovens alunos, com alguma boa dose de tolerância à frustração, ajusta-se à realidade que as escolas lhes dão, não necessitando por aí além de muito mais. E quando necessitam, a maioria deles recorre às explicações externas ou aos apoios específicos que abundam um pouco por todo o lado.

Resta um punhado de jovens alunos a quem tudo corre mal. O azar começa na família ausente. Depois, a escola que, a cantarolar uma cantilena que lhe repetiram idiotamente, diz que não deixa ninguém ficar para trás, mas que na verdade não se ocupa a sério de quem efetivamente precisa.

E nessa escola, perpetua-se alguma gente incompetente e cobarde que não faz o que deve fazer (e para o que é pago!), não contrariando uma reprodução social que já há muito não deveria existir na escolarização obrigatória até aos dezoito anos.