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João Pacheco Matos

joaopmatos@hotmail.com

Isto não é sobre presidenciais

Esta semana começo por algo verdadeiramente importante. O prémio Michelin Bib Gourmand atribuído ao restaurante PIGMEU, de Miguel Matos Peres, anadiense de família e coração, radicado em Lisboa. Este prémio só foi alcançado com trabalho, muita perseverança e alguma genialidade. E já agora, com a aletria da tia Júlia. Um exemplo e um orgulho.

Das comezainas, passemos para coisas mais comezinhas: em Janeiro 2024, no congresso do PS, Pedro Nuno Santos disse “O PS apoiará um candidato como há muito tempo não faz”. Assumi que já sabia quem era. Nada mais errado. Não só não sabia, como passado uns meses, lista um conjunto de possíveis candidatos (incluindo António José Seguro, já de pantufas no sofá), chegando mais recentemente, a pedir que os pretendentes que se manifestassem, para poder escolher. Pelo meio, Ferro Rodrigues veio sugerir primárias para a escolha do candidato presidencial do PS – uma eleição interna, para militantes e simpatizantes do PS escolherem um candidato do partido ao único cargo pessoal e individual da nossa República. Como se as presidenciais fossem uma eleição partidária, como acontece nos EUA.
Quatorze meses depois ainda não sabemos quem o PS apoia à presidência.

O PSD esteve melhor no processo. Montenegro definiu em Agosto o perfil de Marques Mendes para candidato presidencial a apoiar pelo PSD, sem dizer o nome de Marques Mendes e sabendo que este se iria candidatar, aguardando calmamente o anúncio, para lhe atribuir o óbvio apoio.
Mas porque estamos a falar de presidenciais a um ano das eleições? Por causa de Gouveia e Melo (GM) e dos resultados que apresenta nas sondagens. Estes bons resultados derivam de dois factores independentes.

O primeiro diz respeito a GM e à sua imagem. Não julgo que o seu passado como militar condicione a sua candidatura. Discordo que tenha uma imagem autoritária. Julgo que é visto como alguém que cumpre. Que faz o que lhe é exigido pela função que está a desempenhar em cada momento. Durante a covid, organizou a vacinação de forma exemplar, mas não se envolveu em assuntos paralelos, apesar de solicitações várias. No caso dos marinheiros na Madeira, cumpriu com as regras da marinha, sem ceder a alguma pressão mediática desculpabilizadora. Mesmo sobre a sua candidatura, enquanto militar, conseguiu manter o silêncio exigido pela função. Por um lado, criou uma imagem de confiança, mas por outro de alguém que não infantiliza as pessoas, que não as toma por ignorantes. Mostra-se equidistante ao centro. Recusando publicamente tanto a maçonaria como o Chega. “Um tipo normal, com bom senso, que desempenha a sua função”.

Mas esta porta só se abriu a GM porque as opções com origem no tradicional espectro partidário não entusiasmam ninguém. Não o afirmo por advirem dos partidos, pelo contrário. Digo-o porque os partidos não estão a conseguir apresentar melhores pessoas.
O que GM está a mostrar é que se os partidos não mudarem por dentro, o eleitorado vem de fora mudar o paradigma. E não vai ser bonito.

Um Primeiro-Ministro em exercício não deve ter uma empresa, mesmo que familiar. E muito menos receber uma avença, mesmo que seja legal. Tal como não deve nomear o Secretário de Estado que o havia contratado por ajuste directo, mesmo que seja legal. Um presidente de junta, não deve contratar por ajuste directo outro presidente de junta, acusado no processo tuti-fruti, mesmo que seja legal.
São exemplos recentes do PSD, mas podíamos ir a 20 anos de PS e suas famílias. Só estou a falar dos legais.

A política não é um tribunal. Não há presunção de inocência. Pelo contrário, na política, o ónus da honorabilidade tem de estar no político.
Por causa deste comportamento dos políticos, estamos a caminho de um dia termos de vir a escolher entre um Gouveia e Melo e um Ventura – tal como acontece em França entre Macron e Le Pen ou Mélenchon. Ou ainda pior, como no Brasil (e veremos o que sai do partido democrata nos EUA) entre um Ventura e uma Mortágua.

Texto escrito ao abrigo do anterior acordo
ortográfico, por vontade expressa do autor